Em vez de fazer um documentário mais convencional sobre o narcotráfico no México, Everardo González filmou exclusivamente, em A Liberdade do Diabo, vítimas e perpetradores dessa violência. As primeiras falam do que elas ou familiares seus sofreram, os segundos (provindos dos dois lados da lei), do sofrimento que causaram.
Todos eles usam o mesmo tipo de máscara, que só deixa ver os olhos, o nariz e a boca, e que, ao mesmo tempo que protege a identidade dos participantes, sugere que estamos perante pessoas vítimas de queimaduras ou disformidades graves, e uma atmosfera de filme de terror, complementando de forma incómoda e inquietante os discursos dos participantes.
O realizador consegue assim apresentar-nos o amplo e sinistro quadro de uma cultura de morte omnipresente e de uma violência crónica, brutalíssima, sem a menor compaixão, que atinge até as crianças, criada pelo narcotráfico, o grande flagelo do México dos nossos dias. E que tudo indica não ter solução à vista.
Por Eurico de Barros