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Há uma sequência totalmente fantasiosa em A Hora Mais Negra, de Joe Wright, em que Winston Churchill, recém-nomeado primeiro-ministro (PM), em Maio de 1940, e em plena crise de Dunquerque, sai do carro que o conduzia a Westminster, mete-se no Metro e pede a opinião de vários cidadãos anónimos, sobre se deve negociar a paz com Hitler ou continuar a enfrentá-lo. A resposta unânime do povo é pela resistência aos nazis. Além de inventada – nunca na sua vida Churchill pôs os pés no Metro –, a sequência é abusiva do ponto de vista histórico. Na altura, parte da opinião pública britânica, e não só da classe política, era a favor do apaziguamento com a Alemanha hitleriana.
O filme de Wright, escrito por Anthony McCarthen, que já tinha tomado liberdades com a vida de Stephen Hawking em A Teoria de Tudo, contém várias destas incorrecções. E apresenta-se como mais um panegírico de Winston Churchill, centrado nas suas primeiras semanas como PM, enquanto o seu próprio partido punha sérias reservas à nomeação e Hitler avançava Europa dentro, contemplando toda a vulgata heróica sobre o velho leão de Downing Street, vista e revista em dezenas de outros filmes, telefilmes e séries. Wright filma em estilo balofo de tão empoladamente dramático e com banda sonora a condizer, e só a interpretação de Gary Oldman, um dos melhores Churchills de sempre, que desaparece no papel, não se percebendo onde começa o actor e acaba a personagem (e Churchill já foi vivido por Richard Burton, Albert Finney ou Michael Gambon), distingue A Hora Mais Negra.
Por Eurico de Barros