Até Michael Mayer, mais conhecido como encenador teatral do que como realizador, se ter lembrado de adaptar ao cinema esta peça de Anton Tchekov, havia duas outras versões de A Gaivota, uma de 1972, de um realizador russo chamado Youli Karassik, e outra de Sidney Lumet, realizada em 1968 e com um elenco de meter respeito: Vanessa Redgrave, James Mason, David Warner, Simone Signoret e Denholm Elliott, entre outros.
Mayer optou aqui por uma abordagem à peça de Tchekov em que a aplicação posta na descrição da atmosfera pastoral e dos ambientes, por um lado; e uma preocupação com que o filme não tenha a rigidez e a falta de personalidade cinematográfica do teatro filmado, pelo outro, acabam por esbater a veemência dramática de A Gaivota.
Neste Tchekov aligeirado e “podado” aqui e ali para que o filme não tenha muito mais do que a hora e meia que já foi canónica no cinema americano, agarramo-nos então aos intérpretes. Sobretudo, do lado dos jovens, a Saiorse Ronan na seráfica Nina e Billy Howle no inquieto Konstantin, e do lado dos mais velhos, a Annette Bening, dominadora em Irina, a actriz famosa, adiantada na idade e em perda de poder de sedução, e a Elisabeth Moss numa Masha de luto pela sua vida frustrada, numa peça em que todos, na vida ou na arte, estão na rota do desencanto.
Por Eurico de Barros