Ex-militante comunista e natural de Marselha, Robert Guédiguian costuma ambientar nesta cidade os seus filmes, que entroncam numa tradição de realismo social, político e romanesco do cinema francês quase extinta, e nos quais costumam aparecer habitualmente intérpretes como a sua mulher, Ariane Ascaride, ou Jean-Pierre Darroussin. E Guédiguian assina aqui um dos seus títulos mais tocantes e enraizados na paisagem onde nasceu, vive e filma – mesmo que, para o final, A Casa Junto ao Mar ceda a algum sentimentalismo demagógico.
Dois irmãos (Ascaride e Darroussin, ela actriz, ele recém-desempregado) regressam a Marselha, à casa à beira-mar onde nasceram e funciona também um restaurante popular, tudo construído pelo pai, com a ajuda dos vizinhos. Este teve um AVC e está em estado vegetativo, e a cargo do terceiro irmão (Gérard Meylan), que nunca deixou o lar e dirige o restaurante.
A gentrificação também chegou àquela zona paradisíaca. Os vizinhos ou morreram ou venderam as casas a turistas, o restaurante aguenta mal a concorrência de outros mais novos e mais na moda, o exército faz patrulhas por causa dos imigrantes ilegais e do medo de ataques terroristas. Entre a nostalgia de um passado irrecuperável – que inclui o das grandes lutas políticas colectivas – e as perplexidades de um presente cada vez mais incómodo, e entre a tristeza e o bom humor, Guédiguian tece um enredo intimista e cheio de uma humanidade afectuosa que vem atenuar o pessimismo dos tempos, com a total cumplicidade da sua “família” de actores. Além dos indispensáveis Ascaride e Darroussin, surgem também em A Casa Junto ao Mar Robinson Stévenin ou Anais Demoustier.
Por Eurico de Barros