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Um herói adolescente ignorado em casa e com segredos familiares antigos. Um grupo de miúdos com poderes especiais. Um casarão com ambições de castelo mágico, perdido no tempo e acessível através de um caminho que só os miúdos conhecem, dirigido por uma figura severamente protectora. O mesmo herói adolescente em processo de descoberta de que tem um poder ainda mais especial do que os outros, ao mesmo tempo que fica a saber com agradável surpresa que entre raparigas e rapazes há diferenças. Um vilão mau como as cobras, se as cobras fossem mesmo más, apoiado por um desfile exuberante de monstros e fantasmas.
Dito de outra maneira: é um pouco estranho ver Tim Burton, dono do currículo e dos talentos que Eurico de Barros tão bem descreveu no artigo acima, a querer ser David Yates ou Chris Columbus, os dois realizadores mais assíduos dos filmes de Harry Potter. Mas é isso mesmo que acontece em A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares, que podia muito bem chamar-se When Harry Met Tim. Ou, no título português, O Estranho Mundo de Potter (que Afinal se Chama Jacob).
Burton consegue a proeza de fazer um filme com todas as marcas de um filme de Burton – uma fantasia gótica, altamente peculiar, com passagens de comédia negra – que não parece feito por Burton mas sim por alguém que viu muito Burton. Em suma, está tudo lá menos o génio.
Nuno Henrique Luz