Depois de ‘Na Praia de Chesil’, Ian McEwan volta aqui a assinar o argumento de um livro baseado num livro de sua autoria, e com mais felicidade do que naquele.
Aparentemente, A Balada de Adam Henry é um filme sobre a superioridade da Lei e da razão e sobre as crenças religiosas. Emma Thompson interpreta Fiona Maye, uma juíza que tem entre mãos um caso em que um adolescente com leucemia, e os pais deste, Testemunhas de Jeová, recusam que o hospital onde ele está internado faça uma transfusão de sangue que lhe poderá salvar a vida.
O rapaz (Fionn Whitehead) é talentoso, inteligente e expansivo. Contra a norma, a juíza visita-o antes de dar o seu julgamento. Maye deixou-se monopolizar pelo trabalho, secou a sua vida conjugal e pessoal, não teve filhos, não tem pausas, não tem tempo para o marido (Stanley Tucci). A decisão que toma vai abrir-lhe as comportas emocionais e inundá-la de sentimentos recalcados durante anos, inconsciente ou deliberadamente.
O filme, realizado por Richard Eyre com aquele realismo de personagens, situações e sentimentos em que os ingleses são exímios, é na verdade sobre ela. Maye é um case study de repressão emocional e desumanização íntima, a que Emma Thompson dá corpo com uma eloquente e pungente sobriedade.
Por Eurico de Barros