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Proibido de filmar durante vários anos pelo governo do Irão, com residência fixa e condenado a nunca mais voltar ao seu país se um dia o deixar, Jafar Panahi continua, no entanto, a filmar, em sua casa ou fora dela, e a enviar os filmes para o estrangeiro, para serem vistos (e premiados) nos festivais e nos cinemas. E mesmo clandestinos, os seus filmes continuam a ser tão bons (talvez mesmo melhores) do que quando podia trabalhar sem constrangimentos.
3 Faces é o quarto feito nestas condições, e o realizador volta a fazer de si mesmo, ao lado da actriz Behnaz Jafari. Metidos num jipe, Panahi e ela rumam à montanhosa região da fronteira com o Azerbaijão (de onde o realizador é natural), para investigarem da veracidade de um vídeo que receberam em que uma adolescente dali parece suicidar-se, ante a recusa da família em a deixar ser actriz.
Com meios mínimos, e baralhando de novo a fronteira entre realidade e ficção, Panahi assina um filme admirável sobre três gerações de actrizes iranianas (do tempo do Xá, da actualidade, e do futuro), sobre os absurdos da situação da mulher no Irão e da visão que os iranianos têm das suas artistas (existe um star system e elas são admiradas, mas ao mesmo tempo vistas ainda como saltimbancas), e sobre as carências, os contrastes e os paradoxos de um país onde as pessoas são hospitaleiras e generosas, mas também de costumes rígidos e implacáveis.
Por Eurico Barros