Não faltam na história do cinema filmes rodados num único plano-sequência, ou simulando que foram feitos assim. No primeiro caso, estão Wavelenght, de Michael Snow, Timecode, A Arca Russa, de Alexander Sokurov, ou Utoya, 22 de Julho, de Erik Poppe. No segundo, encontramos A Corda, de Alfred Hitchcock, Birdman, de Alejandro G. Iñárritu, e agora 1917, de Sam Mendes, com a novidade de a montagem que oculta os vários planos ser digital.
O filme, com direcção de fotografia de Roger Deakins, não passa o tempo a chamar a atenção para o artifício técnico em que se apoia, nem a câmara a fazer malabarismos visuais para embasbacar o espectador. Mas o dispositivo formal de 1917, que esconde sem dúvida um grande e exaustivo trabalho, técnico e com os actores, apresenta-se ao serviço de uma história de fórmula (dois soldados incumbidos de uma missão aparentemente suicida, neste caso nas trincheiras da I Guerra Mundial). Após um bom arranque, as peripécias dos protagonistas vão parecendo, pouco a pouco, que se desenrolam nos níveis sucessivos de um sofisticado jogo de vídeo, e menos na realidade suja, horrenda e sangrenta das trincheiras e do campo de batalha.
Por Eurico de Barros