Ricardo Ramos Gonçalves

Ricardo Ramos Gonçalves

Jornalista

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O futuro do teatro passa por aqui

O futuro do teatro passa por aqui

Entre os últimos pingos de chuva de Inverno e os primeiros esboços de Primavera, o momento é de comunhão e de cruzamento entre natureza e tecnologia. Ultrapassada a sazonalidade, nada melhor do que pôr a criatividade a funcionar. Estamos na Serra do Louro, de frente para o Parque Natural da Arrábida, com o castelo de Palmela à vista e uma mancha visual de Setúbal, junto ao mar. Depois de um percurso entre trilhos, o desafio começa numa sala rústica transformada numa espécie de hub criativo, com gadgets de diversos tipos. Óculos de realidade virtual, drones, câmaras e robôs controlados por sensores de movimento, luzes e ferramentas inovadoras para trabalhar na ambiência sonora fazem parte do cenário. Este é o primeiro de três dias (14 a 16 de Março) em que a companhia de teatro O Bando recebe no seu reduto, a quinta em Vale dos Barris, jovens de todo o mundo para reflectirem sobre a ligação entre duas dimensões que tantas vezes parecem distantes. O objectivo? Apresentarem criações que possam ser úteis e transformadoras no campo das artes performativas (e não só). É o futuro que passa por aqui. “Como é que se conta uma história, em palco ou para lá dele? E o que é que a natureza nos diz sobre a criação artística?” As primeiras interrogações, lançadas pelo monitor Julian Jungel, servem de base para o que acontece nas horas e nos dias seguintes. São o mote para a nova edição do Play On!, um projecto de cooperação de larga escala da Comissão Europeia, sob a tutela da European Cult
O “anjo da morte” que traz um novo princípio

O “anjo da morte” que traz um novo princípio

Poderíamos ir até Nietzsche e recordar as premissas que o filósofo alemão deixou plasmadas no conceito de “eterno retorno”. A verdade é que há acontecimentos que parecem, à partida, determinados a suceder novamente. Dez anos depois de ter deixado o cargo de directora artística do Teatro da Trindade, a actriz e encenadora Cucha Carvalheiro regressa ao palco desta casa como uma das protagonistas de A Senhora de Dubuque, celebrada peça do dramaturgo norte-americano Edward Albee, com encenação de Álvaro Correia. O espaço é-lhe familiar. Regressa de forma inusitada, diz, numa “mistura de vontades e encontro de sensibilidades”, e com uma personagem “muito irónica” que há já alguns anos desejava interpretar. A peça, que se estreia a 29 de Fevereiro e se mantém em cena até 21 de Abril, materializa esse momento que é, afinal de contas, de celebração. “Acabamos sempre por voltar aos lugares onde fomos felizes.” Ainda numa fase embrionária para saber exactamente quais serão as tonalidades do dispositivo cénico criado, a verdade é que a personagem que interpreta tem pontuado de sucesso a carreira de grandes actrizes. No seu caso não será diferente. Enigmática, por vezes vista como “anjo da morte”, a senhora de Dubuque é um exemplo máximo da mestria presente na escrita de Albee. Escreveu-a como alegoria, em 1980, para falar das civilizações decadentes e para abordar a complexidade das relações humanas. É a primeira vez que chega a um teatro português. O encenador Álvaro Correia salienta,