Manuel Morgado

Manuel Morgado

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Mark Lanegan: “Os Dead Combo são uma das melhores bandas de sempre”

Mark Lanegan: “Os Dead Combo são uma das melhores bandas de sempre”

“Foi um trabalho de amor”, começa por dizer Mark Lanegan sobre Somebody’s Knocking, o seu 11.º álbum, editado a 18 de Outubro de 2019. “Sempre quis fazer um disco com músicas orelhudas. Estou contente que este tenha servido o seu propósito.” O cantor e compositor americano está mais ponderado, inabalável. Isso reflecte-se na escrita, na forma como carrega o passado, e como se vai revendo no som que lhe sai das mãos. “Com sorte estou a tornar-me num compositor melhor, sinto que estou. [A música] está a sair-me melhor agora do que alguma vez esteve. Estou mais rápido. Provavelmente há muita gente que diz o contrário, que estou a ficar consideravelmente pior, mas essa é a natureza da música.” Somebody’s Knocking é, por isso, um disco diferente. Refinado e aprimorado, com uma estrutura que comporta princípio, meio e fim. “Ainda penso nos discos de uma forma antiquada, em que a sequência é importante”, confessa. “Por outro lado, quero que este seja um disco com o maior número possível de músicas boas, que entrem no universo de alguém como possíveis singles. Das outras vezes que tentei fazê-lo, não consegui.” A sonoridade viaja por diferentes destinos, cruza electrónica e rock, mas a voz é sempre o gancho familiar. Uma respiração trazida pela música que o acompanha e que continua a ser decisiva na criação do seu som. Apesar de pensarmos nele como um homem do rock, até da folk, o que o inspira hoje, como ontem, é a “electrónica underground”. “Ouço muita música britânica clássica

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A favor do Nobel de Dylan: O número Zero

A favor do Nobel de Dylan: O número Zero

A melhor definição de Dylan é do próprio Dylan e apareceu há dias, no excelente perfil de Leonard Cohen que a New Yorker publicou a propósito do seu último disco, You Want It Darker. Dylan tinha comprado uma nova propriedade na zona de Los Angeles e queira mostrá-la a Cohen. Às tantas, na conversa ao volante, sai-se com esta: “Para mim, Leonard, tu és o Número 1. Eu sou o número Zero”. O número Zero. Dylan tem um dos mais desconcertantes sentidos de humor – as obras-primas da segunda metade da década de 60 são, também, obras-primas do humor, da (auto)ironia –, e é também uma das personalidades mais desassombradas da nossa época. Nele, cruzam-se o herói e o anti-herói, estatutos que o próprio se vai encarregando de desmentir, de certa forma confirmando assim esses mesmos estatutos. Coincidência do destino, o Nobel chegou-lhe no dia do desaparecimento do Nobel da Literatura cuja distinção gerou mais polémica nos últimos anos – Dario Fo, o dramaturgo e agitador que os mais tradicionalistas consideravam ser pouco merecedor do Nobel da Literatura. Talvez as mesmas vozes que agora hesitem entre o espanto e a indignação. Evitando parafrasear Dylan sobre as mudanças e os tempos que mudam, não há como evitar reconhecer que alguns dos comités Nobel estão em franca mutação de critérios. Isso é bem evidente nos galardões da Paz, em que o prémio tem sido atribuído a personalidades e entidades no activo e no calor da acção, como se o Nobel constituísse um verdadeiro incentivo, como acontec