Eurico de Barros

Eurico de Barros

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Os filmes em cartaz esta semana, de ‘Cão Preto’ a ‘Drop – Número Desconhecido’

Os filmes em cartaz esta semana, de ‘Cão Preto’ a ‘Drop – Número Desconhecido’

Tanto cinema, tão pouco tempo. Há filmes em cartaz para todos os gostos e de todos os feitios. Das estreias em cinema aos títulos que, semana após semana, continuam a fazer carreira nas salas. O que encontra abaixo é uma selecção dos filmes que pode ver no escurinho do cinema, que isto não dá para tudo. Há que fazer escolhas e assumi-las (coisa que fazemos, com mais profundidade nas críticas que pode ler mais abaixo nesta lista). Nas semanas em que há estreias importantes de longas-metragens no streaming, também é aqui que as encontra. Bons filmes. Recomendado: As estreias de cinema a não perder nos próximos meses
Um roteiro para a Festa do Cinema Italiano em sete filmes

Um roteiro para a Festa do Cinema Italiano em sete filmes

A 18.ª Festa do Cinema Italiano começa em Lisboa no dia 9 de Abril e prolonga-se até dia 17, decorrendo nos cinemas São Jorge, Turim, El Corte Inglés, Fernando Lopes e na Cinemateca Portuguesa, entendendo-se também a mais de 20 outras cidades. Além das habituais secções e iniciativas variadas relacionadas com o cinema e a cultura de Itália, a edição deste ano assinala o centenário do nascimento de Marcello Mastroianni, com a secção Mastroianni 100 (entre outros filmes, será visto Viagem ao Princípio do Mundo, de Manoel de Oliveira) e, em colaboração com a Cinemateca, apresenta uma retrospectiva integral da obra do realizador e argumentista Antonio Pietrangeli (1919-1968), intitulada “Antonio Pietrangeli, esse Desconhecido”, e do qual se estrearam vários filmes em Portugal nas décadas de 50 e 60. Seleccionámos sete títulos de entre os programados para exibição. A programação completa e demais informações podem ser consultadas aqui. Recomendado: Entre política e pornografia, Festa do Cinema Italiano atinge a maioridade
As estreias de cinema para ver em Abril, de ‘Vermiglio’ a ‘O Retorno’

As estreias de cinema para ver em Abril, de ‘Vermiglio’ a ‘O Retorno’

Há muita Europa nas salas de cinema em Abril. Um dos destaques é Vermiglio, longa-metragem vencedora do Grande Prémio do Júri no Festival de Veneza de 2024, uma obra da italiana Maura Delpero sobre um desertor da II Guerra Mundial que se esconde numa vila remota. Este mês, também podemos assistir ao regresso a casa de Ulisses, o herói mitológico dos escritos de Homero, em O Retorno, uma produção que juntou Itália, Grécia, Reino Unido e França e levou às ilhas gregas actores como Ralph Fiennes ou Juliette Binoche. Ainda assim, de muito longe (Nova Zelândia) o terror também chega a Portugal, sob o título A Regra de Jenny Penn, com John Lithgow e Geoffrey Rush. Vamos ao cinema? Recomendado: O melhor do cinema alternativo em Lisboa
Quinze filmes coreanos imprescindíveis a qualquer cinéfilo

Quinze filmes coreanos imprescindíveis a qualquer cinéfilo

O cinema sul-coreano está, há muito, entre os mais vibrantes, ousados e influentes do mundo. E se ainda havia dúvidas, Parasitas tratou de as dissipar: o filme de Bong Joon-ho conquistou Cannes em 2019, arrebatou quatro Óscares em 2020 (tornando-se inclusivo a primeira produção de língua não inglesa a conquistar a estatueta dourada de Melhor Filme) e tornou-se um fenómeno global. Agora, com a estreia iminente de Mickey 17, o muito antecipado regresso do realizador, aproveitamos para revisitar 15 dos melhores filmes coreanos deste século – uma selecção que podia ser mais extensa, tal é a riqueza desta cinematografia. De Park Chan-wook a Lee Chang-dong, de Hirokazu Kore-eda a Kim Jee-won, todas estas obras são incontornáveis para qualquer cinéfilo que se preze. Recomendado: As estreias de cinema que não pode perder até ao final do ano
Todos os filmes com nomeações aos Prémios Sophia que pode ver em casa

Todos os filmes com nomeações aos Prémios Sophia que pode ver em casa

A Academia Portuguesa de Cinema apresentou os seus candidatos aos Prémios Sophia, os Óscares portugueses. Grand Tour lidera com 11 nomeações, seguido de O Pior Homem de Londres e Revolução (sem) Sangue, ambos com dez. Além dos filmes, os Prémios Sophia também olham para o pequeno ecrã e inclui uma categoria dedicada à melhor série do ano. A lista completa de nomeados está disponível no site da Academia Portuguesa de Cinema e a cerimónia terá lugar no dia 27 de Abril, no Salão Preto e Prata do Casino Estoril, com transmissão em directo na RTP2, como tem sido hábito. Recomendado: O melhor do cinema alternativo em Lisboa
Grandes actrizes e actores que nunca ganharam o Óscar

Grandes actrizes e actores que nunca ganharam o Óscar

Hollywood continua a ser implacável com algumas das caras mais conhecidas da indústria. Na cidade dos anjos contam-se histórias que traduzem amores e desamores da condição humana, histórias de força e superação, histórias de desastre e redenção, para que nos seja possível suportar a existência. Mas, no fim, há mais em jogo do que uma linha que nos estremece ou um monólogo que nos acompanha como bíblia para o resto dos dias. A estatueta dourada é a bitola que separa o que é bom do que é divino, mas nem sempre é consensual. Esta é a lista das actrizes e dos actores que nunca ganharam o Óscar. Recomendado: As actrizes e os actores com mais Óscares
As únicas comédias que ganharam o Óscar de Melhor Filme

As únicas comédias que ganharam o Óscar de Melhor Filme

Tal como a maior parte das cerimónias de prémios, os Óscares tendem a privilegiar um certo tipo de filmes – mais sérios, por assim dizer – em detrimento de quase tudo o resto. Embora haja sempre excepções, as comédias raramente estão nas boas graças da Academia de Hollywood. Uma tendência que foi recentemente contrariada na cerimónia de 2023, graças a Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo, que conquistou a estatueta dourada. De resto, ao longo dos anos, só sete filmes cómicos levaram para casa o cobiçado Óscar de Melhor Filme. Frank Capra, Leo McCarey, Billy Wilder, Tony Richardson, Woody Allen e, por fim, a dupla Daniel Kwan e Daniel Scheinert foram os realizadores dos filmes premiados. Recomendado: Os filmes que ganharam mais Óscares
Os dez musicais que ganharam o Óscar de Melhor Filme

Os dez musicais que ganharam o Óscar de Melhor Filme

Desde a primeira cerimónia de entrega dos Óscares, em Maio de 1929, até aos nosso dias, apenas dez musicais venceram o ambicionado Óscar de Melhor Filme. Entre os vencedores, estão clássicos como Um Americano em Paris (1951) e Gigi (1958), ambos de Vincente Minnelli, My Fair Lady (1964), de George Cukor, ou Música no Coração (1965), de Robert Wise. Mas nos últimos 50 anos só um filme (Chicago, de Rob Marshall) arrebatou a principal estatueta da Academia de Hollywood. Com as nomeações de Emilia Pérez e Wicked, serão os Óscares de 2025 a mudar estas contas?  Recomendado: Os filmes que ganharam mais Óscares
As actrizes e os actores com mais Óscares

As actrizes e os actores com mais Óscares

Foram muitos os actores e actrizes que, desde 1929, data da primeira cerimónia dos prémios, ganharam um Óscar. Pouco mais de 40 conseguiram levar para casa duas estatuetas da Academia das Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood ao longo da carreira. Mais do que isso? Quase nenhuns. Katharine Hepburn é a actriz mais premiada, tendo recebido quatro Óscares de melhor actriz entre 1934 (por Glória de Um Dia) e 1982 (por A Casa do Lago). Depois, com três Óscares, surgem Frances McDormand, Daniel Day-Lewis, Meryl Streep, Jack Nicholson, Ingrid Bergman e Walter Brennan – o único que nunca foi eleito melhor actor principal, vencendo apenas por papéis secundários. Recomendado: Os filmes que ganharam mais Óscares
12 filmes fantásticos e de terror que ganharam Óscares

12 filmes fantásticos e de terror que ganharam Óscares

É muito raro um filme como A Forma da Água, de Guillermo Del Toro, ser nomeado para tantos Óscares como aconteceu em 2018: 13. Recebeu quatro (filme, realizador, banda sonora e direcção de arte), apesar de não estar na tradição da Academia de Hollywood distinguir com estatuetas douradas o cinema da fantasia e do sobrenatural. Mesmo assim, ao longo das décadas, foram vários os filmes fantásticos e de terror recompensados, quase sempre nas categorias secundárias, como caracterização, guarda-roupa ou efeitos visuais. Mas há excepções, como O Senhor Dos Anéis: O Regresso do Rei, a última aventura cinematográfica da trilogia tolkiana de Peter Jackson. Recomendado: Uma dúzia de grandes realizadores que nunca ganharam um Óscar
As estreias de cinema para ver em Março, de ‘Mickey 17’ a ‘Tudo Acontece em Paris’

As estreias de cinema para ver em Março, de ‘Mickey 17’ a ‘Tudo Acontece em Paris’

Março é o mês dos Óscares. Mas o cinema é um caminho e não se resume a uma gala em Los Angeles. Vamos por etapas. Se ainda estiver a aprender o bê-a-bá da cinefilia, comece pelos clássicos de cinema para totós; se está a aprofundar conhecimentos, certifique-se de que viu os 100 melhores filmes de sempre; se já é um utilizador avançado e é dado a circuitos marginais, não falta cinema alternativo em Lisboa. Mas se tudo o que anda à procura é de um bom filme para ver numa sala de cinema comercial, então aqui encontra as principais estreias de cinema de Março de 2025. Recomendado: Todos os filmes com nomeações aos Óscares que pode ver em casa
Os filmes que ganharam mais Óscares

Os filmes que ganharam mais Óscares

Antes da 97.ª cerimónia de entrega dos Óscares, que se realiza a 2 de Março, em Los Angeles, recordamos alguns dos filmes com o maior número de estatuetas no currículo. O clássico Ben-Hur, Titanic e a terceira parte da trilogia O Senhor dos Anéis lideram a lista dos recordistas de Óscares na história do cinema, com 11 prémios. A versão de 1961 de West Side Story – Amor sem Barreiras, distinguida com dez estatuetas, é outro dos filmes em destaque. A adaptação do mesmo musical por Steven Spielberg, estreada em 2021, ficou-se pelas sete indicações, mas há três filmes este ano que, pelo menos em teoria, podem juntar-se a esta lista: Emília Pérez, de Jacques Audiard, que teve 13 nomeações; e O Brutalista, Brady Corbet, e Wicked, de Jon M. Chu, ambos canditados a 10 prémios. Será que têm sorte? Recomendado: Todos os filmes com nomeações aos Óscares que pode ver em casa

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Cão Preto

Cão Preto

4 out of 5 stars
Depois de dez anos na prisão, Lang (Eddie Peng) regressa à sua remota cidade natal, no noroeste da China, agora muito degradada e que vai ser demolida em grande parte para dar lugar a um complexo de fábricas, no âmbito do esforço de desenvolvimento nacional quando dos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008. Lang apenas arranja emprego a apanhar cães vadios e abandonados, que estão por toda a cidade, e acaba por ficar com um cão preto que o mordeu e pelo qual havia uma grande recompensa, após ter estado isolado com o animal para evitar a eventual propagação do vírus da raiva. E desenvolve-se uma amizade entre eles. Há toda uma vasta filmografia sobre os laços e o companheirismo entre o homem e o cão, e a lealdade, a fidelidade e mesmo o espírito de sacrifício que decorrem deles, e Cão Preto, de Guan Hu, vai mesmo lá para o topo da lista. Além de contar a lacónica mas tocante história da ligação entre o solitário e individualista Lang, e o animal igual a ele em feitio que adopta, e que é o seu correlativo canino, Hu recria também, na desolada cidade em que se passa o enredo, um momento fulcral da história colectiva recente da China, longe da fachada de optimismo propagandístico e de auto-congratulação estridente do Estado central e do Partido Comunista. E fá-lo harmonizando um realismo áspero e uma fantasia de recorte surreal, com uma câmara de vistas amplas que capta e incorpora na narrativa a vastidão esmagadora das paisagens da região, remetendo quer para os westerns e para os ro
A Regra de Jenny Pen

A Regra de Jenny Pen

3 out of 5 stars
John Lithgow e Geoffrey Rush desempenham os principais papéis de A Regra de Jenny Penn, um filme de terror psicológico do realizador e actor neozelandês James Ashcroft. Um juiz reformado, Stefan Mortensen (Rush), está internado numa casa de repouso isolada após ter sofrido um AVC que o deixou sem mobilidade e dependente de outros. Na mesma instituição, encontra-se também há muito um idoso psicopata, Dave Crealy (Lithgow), que se serve de um fantoche de criança, a quem chama Jenny Pen, para tiranizar e atormentar cruelmente os outros residentes, por vezes com consequências mortais. Os veteranos Lithgow, no sádico e sarcástico Crealy, e Rush, no indignado e desafiador Mortensen, brilham e fazem a festa, deitam os foguetes e recolhem as canas deste tenso e sólido thriller da terceira idade, salpicado de humor negro, que James Ashcroft mantém verosímil e “realista” do princípio ao fim, sem sucumbir à tentação de pôr as duas personagens a fazer coisas que os anos e as maleitas não lhes permitem, ou de enveredar pelo sobrenatural, e onde o horror pode ser também a velhice solitária e desamparada. Uma boa série B do género, como já se fazem poucas, e resolvida como deve ser, em pouco mais de hora e meia.
O Beijo

O Beijo

3 out of 5 stars
Drama romântico assinado por Bille August, passado na Dinamarca, poucos meses antes do início da I Guerra Mundial. Anton, um jovem pobre e consciencioso que tem como principal prioridade acabar a instrução como oficial de Cavalaria, auxilia um rico barão local que teve um problema com o carro, durante um treino com o seu pelotão. Este convida-o para um baile no seu castelo e aí Anton conhece Edith, a bela filha do aristocrata, que está confinada a uma cadeira de rodas após ter sofrido um acidente de equitação quando era pequena. Adaptando um romance de Stefan Zweig, e apoiando-se em excelentes interpretações de Esben Smed (Anton) e Clara Rosager (Edith), August, o realizador de Pelle, o Conquistador, A Casa dos Espíritos e As Melhores Intenções, dá-nos um filme reconfortantemente anacrónico, cujo recorte romanesco, dilemas íntimos e convulsões sentimentais, aliadas à recriação de uma época e do seu quadro mental, vivências próprias e preconceitos específicos, e que o realizador mostra sem nunca os ajuizar, são as suas melhores recomendações.
Cartas Telepáticas

Cartas Telepáticas

3 out of 5 stars
H.P. Lovecraft e Fernando Pessoa estão entre os escritores mais importantes do século XX. Nunca se conheceram nem encontraram, mas há pontos de contacto entre as suas vidas e obras. Recorrendo a imagens geradas por Inteligência Artificial (aqui usada pela primeira vez no cinema português), Edgar Pêra, com arrojo e imaginação, põe aqui a dialogar as cartas, ensaios, poemas e ficções dos dois autores, e concebe paisagens visuais adequadas aos universos literários de cada um deles, com natural destaque para os heterónimos de Pessoa e para a mitologia de Chtulhu de Lovecraft. 
Siga a Banda!

Siga a Banda!

4 out of 5 stars
Esta comédia dramática de Emmanuel Courcol foi um dos grandes sucessos populares em França em 2024, tendo também, coisa rara, sido plebiscitada por toda a crítica. É a história de um famoso maestro, Thibaut Desormeaux (Benjamin Lavernhe) que foi diagnosticado com leucemia e descobre que é adoptado e tem um irmão mais velho, Jimmy (Pierre Lotin), na vila mineira do Norte de França onde ambos nasceram. Jimmy trabalha na cantina da escola, tem também o dom da música, toca trombone na banda local e foi adoptado por um casal de lá. Thibaut precisa de um transplante de medula e Jimmy é compatível com ele, e a operação faz-se com sucesso. Agradecido, e sentindo um complexo de culpa pelo facto de os seus pais adoptivos não terem levado também Jimmy para Paris, privando-o assim de uma carreira musical tão brilhante como a dele, Thibaut propõe-se ajudá-lo, e à banda da terra, a ganhar o concurso de bandas da região. História de um encontro de irmãos que desconheciam a existência um do outro, e de um reconhecimento familiar tardio, ao som de música, Siga a Banda! é também a história do encontro entre dois mundos musicais muito diferentes, mas que têm afinidades naturais, a exemplo de Thibaut e Jimmy, daí que ouçamos Mozart, Verdi, Beethoven ou Ravel, mas também Benny Golson, Lee Morgan, Charles Aznavour e Dalida. E é igualmente a prova de que o cinema francês ainda consegue fazer filmes populares de qualidade, bem acolhidos por público e crítica.
Black Bag

Black Bag

4 out of 5 stars
Ainda A Presença está nos cinemas portugueses e já há mais um filme de Steven Soderbergh a estrear. Escrito por David Koepp, que também assinou o argumento daquele, Black Bag é um thriller de espiões interpretado por Michael Fassbender, Cate Blanchett, Pierce Brosnan, Tom Burke e Naomie Harris. Kathryn Woodhouse, uma agente secreta inglesa, é suspeita de traição. O seu marido, George, também ele agente, enfrenta o derradeiro teste: ser leal ao casamento ou ao país que jurou servir. Mas será que ela é culpada, ou estarão ambos a ser enganados pelo verdadeiro traidor? É que há mais quatro suspeitos, todos eles colegas de serviço de George e Kathryn, e visitas de casa. Soderbergh pega no formato tradicional do spy movie e em todos os seus componentes e roda uma fita de grande entretenimento, um superior divertissement de espionagem, com 80% de John Le Carré e 20% de James Bond, seguindo à risca o caderno de encargos do género, mas com a indispensável voltinha na ponta no final. Ao mesmo tempo, faz o elogio do casamento perfeito, através do casal protagonista e da sua relação doméstico-profissional. E tudo sem conversa fiada nem tempos mortos, sem palha nem teorias geopolíticas, e em civilizada hora e meia. Fassbender e Blanchett são um regalo a interpretar o casal de espiões que se entendem em tudo, seja em casa, seja no trabalho, e Pierce Brosnan diverte-se a fazer uma personagem nos antípodas de 007. A não perder.
Parthenope

Parthenope

4 out of 5 stars
Nascida em Nápoles nos anos 50, Parthenope é uma mulher que tem o nome clássico da sua cidade, e da sereia da mitologia que o inspirou. O também napolitano Paolo Sorrentino, autor de A Grande Beleza e A Mão de Deus, dá-lhe aqui os traços da belíssima estreante Celeste Dalla Porta na juventude, e de Stefania Sandrelli na idade adulta, acompanhando a sua busca pelo amor e pela felicidade nos longos verões de Nápoles. Sorrentino usa Parthenope não só como a personagem principal desta história, mas também como uma emanação feminina da cidade, e uma guia do espectador para a mesma e para a sua identidade colectiva, reflectindo a relação complexa que o próprio realizador tem com Nápoles. O gosto de Paolo Sorrentino pelas alegorias e pelo grotesco, e as influências de Fellini, manifestam-se também em Parthenope, em que o autor de A Grande Beleza medita também, usando a protagonista como mediadora, sobre a brevidade gloriosa da juventude, a inevitabilidade da passagem do tempo e o poder avassalador da beleza, que a heroína, aliás, nunca usa em seu favor. Apesar de, tal como o seu filme anterior, o autobiográfico e terra-a-terra A Mão de Deus, se passar também em Nápoles, Parthenope está em tudo nos antípodas deste, e por isso poderá mesmo fazer torcer o nariz a alguns admiradores e defensores de Sorrentino. Gary Oldman tem uma pequena participação no papel de John Cheever, o escritor favorito de Parthenope.
O Atentado de 5 de Setembro

O Atentado de 5 de Setembro

3 out of 5 stars
Durante os Jogos Olímpicos de Munique de 1972, uma equipa de jornalistas de desporto e de técnicos da estação americana ABC, que está a seguir o evento, é obrigada a adaptar-se para cobrir o caso dos atletas israelitas que foram feitos reféns por um comando terrorista palestiniano, o Setembro Negro, e que resultaria num massacre que chocou o mundo inteiro. Recriando factos reais, Atentado de 5 de Setembro é uma co-produção Alemanha/EUA realizado por Tim Fehlbaum e documenta como foi feita esta transição, destacando a intensa experiência profissional e emocional que constituiu a primeira cobertura em directo de uma tragédia global. Bem ritmado, tenso e eficazmente sintético (dura 95 minutos, uma raridade nestes tempos de fitas prolixas com duas e três horas), o filme recria o jornalismo tal como se fazia nesse ano de 1972, quando tudo era ainda analógico, em papel e manual, e nem sequer se sonhava com a Internet, as comunicações digitais, as redes sociais e a informação em contínuo e em directo. Os jornalistas e técnicos da ABC, e a sua tradutora alemã, Marianne, que lhes vai servir também de precioso contacto e de “antena” com os media locais, têm que dar asas à imaginação, e improvisar a todo o pé de passada (um deles vai mesmo fingir ser um atleta dos EUA para levar bobinas de filme aos colegas que desobedeceram às ordens de evacuação da polícia alemã e ficaram escondidos num prédio da Aldeia Olímpica, a filmar com uma câmara portátil e a relatar o que se passava), para con
Flow – À Deriva

Flow – À Deriva

4 out of 5 stars
Prémio do Júri e do Público no Festival de Annecy, Globo de Ouro de Melhor Filme de Animação e candidato ao Óscar de Melhor Longa-Metragem de Animação, Flow – À Deriva é realizado pelo letão Gints Zilbalodis, e um dos melhores filmes do género dos últimos anos. Passa-se num mundo futuro decadente de onde os humanos desapareceram e só os animais sobreviveram, e que é assolado por gigantescas inundações. Um solitário gato que vive na casa que pertenceu ao dono, um artista (há desenhos e esculturas de felinos por toda a parte, até no jardim) encontra refúgio num barco onde se vão juntar uma capivara, um cão, um lémure e um pássaro secretário, que para sobreviver vão ter que juntar esforços e esquecer as suas divergências. Tal como na sua longa-metragem anterior, Away – A Viagem (2019), Zilbalodis conta esta história de amizade e entreajuda por meios visuais e musicais, já que os animais protagonistas são escassamente antropomorfizados, não falam e os sons que emitem correspondem a equivalentes seus reais, que a equipa do filme gravou para o efeito (com excepção da capivara, que tem a “voz” de um camelo bebé), o que os torna mais autênticos e menos “desenhos animados”. E logo mais próximos de nós em termos emocionais, de empatia e de envolvimento nas peripécias da aventura aquática do gato individualista e que odeia água, e dos seus companheiros. O realizador cita influências tão díspares como os filmes do Senhor Hulot, de Jacques Tati, ou a série de animação japonesa Conan, o Ra
Crónicas Chinesas

Crónicas Chinesas

3 out of 5 stars
Em Janeiro de 2020, um realizador chinês convence a equipa técnica e os actores a retomarem, em Wuhan, a rodagem de um filme interrompido uma década antes. Com as filmagens quase concluídas, começam a circular rumores sobre uma nova e estranha doença. Alguns elementos do elenco e da equipa conseguem sair do hotel em que estão alojados antes de este fechar. Os restantes são confinados aos quartos e o realizador vai ter que decidir se interrompe as filmagens mais uma vez, quando Wuhan é isolada e posta em confinamento por causa da pandemia de Covid-19. Realizado por Lou Ye, Crónicas Chinesas é um documento dramatizado sobre o dia-a-dia, o tédio e as angústias do confinamento radical em Wuhan, através da situação dos actores e técnicos que não conseguiram deixar o hotel e a cidade e ficaram lá retidos durante longo tempo, sem poderem comunicar uns com os outros, e com o exterior, senão por telemóvel e computador. E que inclui, no final, imagens da violenta contestação popular naquela cidade às brutais medidas sanitárias e securitárias impostas pelo regime chinês, que envolveram confrontos com polícia e membros das equipas de saúde, e a destruição de instalações e equipamentos, imagens essas pouco ou mesmo não divulgadas fora do país.
A Presença

A Presença

4 out of 5 stars
O versatilíssimo e incansável Steven Soderbergh envereda agora pelo terror em A Presença, onde filma uma família de quatro pessoas que se instala na sua nova casa nos subúrbios de uma grande cidade, que tem cem anos mas foi renovada recentemente. A mãe, Rebekah, trabalha muito e adora o filho, Tyler, um nadador de competição, e o pai, Chris, tem que lembrar à mulher, que o domina, que não ela pode desprezar a filha adolescente, Chloe, deprimida após a morte da melhor amiga com uma overdose. Dos quatro, apenas Chloe sente, e logo desde que lá entra, uma presença sobrenatural na casa. O pai, a mãe e o irmão começam por pensar que a rapariga está psiquicamente perturbada com a morte da amiga, mas quando todos testemunham, certa noite, uma manifestação assustadora, convencem-se que existe mesmo um espectro na casa. Decidem então chamar uma vidente, que lhes dá a melhor, embora vaga, explicação sobre a assombração, mas o ambiente em casa, e entre os pais e os filhos, piora ainda mais desde aí. Baseando-se em algo insólito que aconteceu na sua própria casa em Los Angeles, Steven Soderbergh entregou o argumento de A Presença ao prestigiado David Koepp com quem já tinha trabalhado antes, e rodou a fita no seu melhor estilo independente, poupadinho e “portátil”: em menos de um mês, quase toda no mesmo cenário, usando uma câmara Sony barata e equipada com uma lente adequada à ideia visual que orienta o filme (o realizador foi também o director de fotografia, operador de câmara e montad
A Complete Unknown

A Complete Unknown

3 out of 5 stars
James Mangold, o realizador de A Complete Unknown, não gosta que digam que o seu filme é um “biopic” de Bob Dylan. Como declarou numa entrevista à revista Vogue: “É uma forma de deitar um filme abaixo, de o desmerecer. É um termo usado de forma pejorativa para indicar uma história que vai do berço até à sepultura do biografado, com muitas participações breves de pessoas famosas, que entram e saem rapidamente. Quando as pessoas usam esse termo, querem dizer que um filme não ganhou o direito à sua própria gravidade emocional – que está a viver à conta de aparências daquilo ‘que aconteceu na realidade’ para se atribuir uma integridade de obra de arte que poderá não ter.” Escrito pelo próprio Mangold e por Jay Cocks, e baseado no livro de 2015 Dylan Goes Electric!, de Elijah Wald, A Complete Unknown abrange cinco anos da vida e da carreira de Bob Dylan (interpretado por Timothée Chalamet), entre 1961 e 1965. A história vai da sua chegada a Nova Iorque, onde se instalou em Greenwich Village, quando era um desconhecido, até chegar à fama, ser considerado o porta-voz de uma nova geração e fazer a lendária actuação “eléctrica” no Festival de Música Folk de Newport, em que incorreu na fúria de um público purista que esperava um concerto acústico e não de rock n’roll com um grupo, e que marcou um novo ciclo na carreira de Dylan, bem como uma nova etapa na música pop/rock. Entre os vários nomes que se cruzam com ele ou o acompanham em A Complete Unknown, e que foram importantes, pessoal

News (417)

‘O Amador’: os espiões nunca morrem, reciclam-se

‘O Amador’: os espiões nunca morrem, reciclam-se

A Guerra Fria alimentou constante e abundantemente o cinema de espionagem, dando origem a não poucos títulos clássicos deste género, bastantes deles baseados em livros assinados por autores consagrados como, entre outros, e com abordagens tão diversas ao tema como Ian Fleming, Robert Ludlum, John Le Carré, Len Deighton, Tom Clancy ou Robert Littell. Foi baseado numa obra deste último, The Amateur, que Charles Jarrott realizou, em 1980, um filme com o mesmo título, e que em Portugal se chamou Operação Vingança. Interpretado por John Savage, Christopher Plummer, Marthe Keller e Arthur Hill, Operação Vingança é a história de Charles Heller (Savage), um criptógrafo da CIA cuja mulher morre num atentado terrorista levado a cabo por agentes comunistas.  Heller quer vingar-se a todo o custo dos criminosos e chantageia os seus superiores para ser enviado para lá da Cortina de Ferro, para a Checoslováquia, decidido que está a eliminar os responsáveis pela tragédia, mesmo que morra a fazê-lo. Mas Heller acaba por perder o apoio dos seus colegas e vai ficar sozinho em território inimigo, tendo que se desenvencilhar por si. E ao mesmo tempo que elimina dois dos homens que mataram a sua mulher, faz uma descoberta inesperada: o líder do grupo de terroristas é um agente duplo e responde também perante a CIA, além das autoridades checas. O facto de, mais de 40 anos depois, o mundo ter mudado radicalmente, o Muro de Berlim haver caído, a Cortina de Ferro desaparecido, o comunismo sido derrota
‘Arthur’s Whisky’: um triplo regresso à juventude

‘Arthur’s Whisky’: um triplo regresso à juventude

O desejo de juventude eterna e o regresso aos anos em que se era novo são temas que não passam de moda no cinema, sobretudo no registo fantástico e de comédia, ou mesmo ambos misturados. Por exemplo, estreia-se este Verão Freakier Friday, a continuação de Um Dia de Doidos (2003) – este, por sua vez, um remake de As Aventuras de Annabel, com Barbara Harris e Jodie Foster (1976) –, em que Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan interpretam mãe e filha que trocam de corpos involuntariamente. A primeira fica mais nova e a segunda mais velha (é um caso de dois-em-um cronológico no mesmo filme, uma recua no tempo enquanto a outra avança), e têm que viver, de forma atabalhoada, situações características das suas respectivas faixas etárias. No caso de Arthur’s Whisky, de Stephen Cookson, que se estreia entre nós esta semana, estamos perante uma comédia dramática fantástica rodada em Inglaterra, que põe em cena um trio de amigas já solidamente instaladas na terceira idade, e a padecer das mazelas que a acompanham. Elas são Linda (Diane Keaton), Joan (Patricia Hodge) e Susan (Lulu). Joan acaba de enterrar o marido, o Arthur do título, que foi fulminado por um raio numa noite de tempestade, ao sair do barracão no jardim de casa onde se costumava fechar a fazer as suas excêntricas experiências. Ao ir arrumar o barracão, Joan encontra aquilo que parece ser whisky caseiro destilado pelo marido.  Só que quando Joan e as amigas o provam, em homenagem ao falecido, descobrem que na noite da sua morte
‘Monsieur Aznavour’: a história de um monumento da canção francesa

‘Monsieur Aznavour’: a história de um monumento da canção francesa

Como milhões de outros jovens franceses, Mahdi Idir e Grand Corps Malade (nome artístico do rapper, compositor e realizador Fabien Marsaud) cresceram a ouvir os discos de Charles Aznavour tocados pelos pais. Mas sempre apreciaram essas canções, ao contrário de milhões de outros jovens franceses como eles, que não gostavam da música que os pais ouviam e só mais tarde, quando eram mais crescidos, começaram a perceber que havia muita coisa boa entre o que os mais velhos punham a tocar nos seus gira-discos. “Ele sempre fez parte de nós, da família”, sublinharam numa entrevista a propósito de Monsieur Aznavour, o filme biográfico realizado por ambos e com Tahar Rahim no papel do lendário cantor francês de origem arménia, e um monumento da chanson com projecção planetária, admirado pelos mais ilustres dos seus pares, de Frank Sinatra a Johnny Halliday, passando pelos Três Tenores. Aznavour, que morreu em 2018, com 94 anos, ainda conheceu os dois realizadores, e deu a bênção ao projecto do filme. Ajudou bastante a isso o facto de Jean Rachid-Kallouche, o produtor dos filmes daqueles, ser também genro do cantor, que um dia apareceu para almoçar em sua casa quando Idir e Marsaud também lá estavam a comer. Aznavour  tinha visto o primeiro filme da dupla, Patients, e gostado. E disse a Kallouche que, se algum dia fizessem um filme sobre a sua vida, queria que fosse ele a produzir. O produtor arriscou então que poderiam ser Idir e Marsaud a realizá-lo, e Aznavour respondeu: “Porque não?”
‘Siga a Banda!’: sucesso de público e de crítica em França chega a Portugal

‘Siga a Banda!’: sucesso de público e de crítica em França chega a Portugal

Em 2017, o actor e realizador francês Emmanuel Courcol (Um Triunfo) tinha trabalhado numa curta-metragem documental chamada Des confettis sur le béton, sobre uma banda filarmónica e o seu grupo de majoretes de uma vila do norte de França, que o deixou com vontade de fazer um filme sobre um daqueles agrupamentos musicais populares. Esse filme é Siga a Banda!, que foi um dos sucessos de bilheteira do cinema francês de 2024, com 2,5 milhões de entradas, tendo também – coisa rara – sido elogiado por toda a crítica, e obtido sete nomeações para os Césares (embora não tenha ganhado nenhum). A antestreia deu-se no Festival de Cannes. Thibaut Desormeaux (Benjamin Lavernhe) é um famoso maestro que desmaia durante um ensaio de orquestra em Paris. É-lhe diagnosticada uma leucemia e dito que precisa de um transplante de medula óssea, e a irmã faz logo um teste de ADN para ver se é uma dadora compatível. É aí que Thibaut descobre que é adoptado, porque não têm o mesmo ADN dela. A mãe revela-lhe então que ele tem um irmão, que ela e o marido não puderam adoptar na altura, porque entretanto tinha ficado grávida, inesperadamente, da irmã, e que por sua vez acabou também por ser adoptado. E ele vive ainda na vila onde ambos nasceram, no norte de França, numa zona mineira, e se chama Jimmy Lecocq (Pierre Lottin). O maestro viaja então para lá, para se dar a conhecer ao irmão e à sua mãe adoptiva, explicar a sua situação e convencê-lo a fazer um exame para saber se é um dador compatível. Lá che
Em 12 filmes, o Outsiders 2025 olha para o “outro” nos EUA

Em 12 filmes, o Outsiders 2025 olha para o “outro” nos EUA

Ingrid Thorburn acabou de sair de um internamento numa clínica psiquiátrica. Ingrid tem uma obsessão: as redes sociais. E tem um péssimo hábito: perseguir influencers que a impressionam. Ingrid decide então rumar a Los Angeles, para perseguir a sua mais recente fixação. Ela é Taylor Sloane, uma influencer californiana cujo imaculado e sofisticado estilo de vida, tal como é exposto no Instagram, fascinou aquele. Ingrid e Taylor, interpretadas, respectivamente, por Aubrey Plaza e Elizabeth Olsen, são as protagonistas de Ingrid Goes West (2017), uma comédia satírica e negra realizada por Matt Spicer, que ganhou os prémios de Melhor Argumento no Festival de Sundance e o de Melhor Primeira Obra nos Independent Spirit Awards. E é um dos 12 filmes de ficção e documentais, rodados entre 2014 e 2024, que formam o programa do Outsiders – Ciclo de Cinema Independente Americano, na sua quarta edição, que tem lugar entre 11 e 16 de Março no Cinema São Jorge. Desde que começou que o Outsiders pretende que os filmes que exibe, todos eles sempre de produção independente, sirvam como um espelho das muitas facetas da sociedade americana, embora procurando sempre estar unidos por tendências ou características comuns. Este ano, e segundo escreve no programa de apresentação Carlos Nogueira, curador da iniciativa,  o “outro” é o tema comum aos filmes da edição de 2015: “Pareceu-nos que a questão do “outro”, ou o tema da alteridade, seria uma das chaves da crispação que tem alastrado a todos os sec
O Pátio das Antigas: O Salão Central que depois foi Central Cinema

O Pátio das Antigas: O Salão Central que depois foi Central Cinema

Quando abriu as portas no Palácio Foz, nos Restauradores, a 18 de Abril de 1908, o Salão Central, propriedade do dinâmico distribuidor de filmes Raul Lopes Freire, era o cinema mais luxuoso de Lisboa, com 425 lugares e um pequeno grupo musical privativo para acompanhar ao vivo a projecção dos filmes mudos. Lopes Freire era já o proprietário de uma outra sala de cinema na Baixa, o Salão Chiado, situado nos Grandes Armazéns do Chiado. Numa publicidade dessa época reproduzida pelo blogue Restos de Colecção. O Salão Central é referido como “o melhor animatographo de Lisboa” e são anunciadas as suas “sessões elegantes à terça-feira”, “sessões da moda à quinta-feira”, “grandiosas matinés-concerto ao domingo” e “magníficos concertos pelo sexteto do Salão”. Recorde-se que pela mesma altura, e até 1939, o Palácio Foz acolheu, além do Salão Central, estabelecimentos tão variados como o restaurante A Abadia, a Pastelaria Foz e o cabaré Maxim’s. Em 1919, o incansável Lopes Freire fechou o cinema para melhoramentos. Em 1926, a sala voltou a encerrar para mais obras, reabrindo em 1928 (coincidindo com a abertura do citado Maxim’s), mantendo os mesmos padrões de luxo e elegância, mas agora com um novo nome: Central Cinema. Fecharia em 1945. Funciona lá hoje, desde 2007, a Cinemateca Júnior, depois de lá ter estado instalada a Cinemateca Portuguesa, entre 1958 e 1979. Coisas e loisas de outras eras + Sol a Sol, o primeiro “drugstore” de Lisboa + O cinema e a fotografia segundo a Pathé-Baby +
‘O Atentado de 5 de Setembro’: a tragédia dos Jogos Olímpicos de Munique vista pela televisão

‘O Atentado de 5 de Setembro’: a tragédia dos Jogos Olímpicos de Munique vista pela televisão

Realizados quase 30 anos depois do final da II Guerra Mundial de Munique, os Jogos Olímpicos de Munique de 1972 foram realizados sob o signo do slogan “Os Jogos da Serenidade”. A Alemanha queria proporcionar um grande espectáculo ao mundo e, através dele, mostrar que continuava, consistente e diligentemente, o seu processo de recuperação da devastação, dos traumas e também da culpabilidade colectiva associada àquele grande conflito. Talvez por isso, e para apagar a imagem propagandística e a envolvência marcial dos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936, que decorreram durante o regime nacional-socialista, a segurança foi descurada na Aldeia Olímpica e as autoridades alemãs não estavam preparadas para o que aconteceu. Na madrugada do dia 5 de Setembro, um comando de oito membros da organização terrorista palestiniana Setembro Negro infiltrou-se na Aldeia Olímpica, matou dois membros da equipa olímpica de Israel e fez nove outros reféns. Os terroristas exigiam a libertação de um conjunto de palestinianos e alguns não-árabes ligados a movimentos armados de extrema-esquerda, das cadeias israelitas. Todas as tentativas de negociação e de troca dos atletas reféns por personalidades alemãs falharam. No dia 6 de Setembro foi oferecido um avião aos terroristas, para irem com os reféns para o Cairo. A tentativa de resgate destes no aeroporto militar onde o avião se encontrava, falhou, redundando num massacre em que morreram todos os reféns, um polícia alemão e cinco dos oito membros do com
Tudo sobre ‘Bridget Jones: Louca por Ele’, e sobre ela mesma

Tudo sobre ‘Bridget Jones: Louca por Ele’, e sobre ela mesma

Faz agora 30 anos, em 1995, começou a ser publicada no diário inglês The Independent uma crónica intitulada Bridget Jones’s Diary, não assinada (o que levou muitos leitores logo a pensar que se tratava de um nome fictício). A dita Bridget Jones – Bridget Rose Jones, de seu nome completo – era uma mulher de trinta e poucos anos, da classe média, solteira, com uma profissão liberal e um grupo de amigos próximos muito fiel e castiço, que contava os seus problemas quotidianos, em especial as suas relações e desilusões sentimentais, e as suas aspirações românticas. Bridget bebia e fumava demais, e estava sempre a fazer resoluções para deixar os cigarros, beber menos e também perder algum peso.  A crónica, que através da personagem de Bridget Jones, satirizava e retratava, de forma deliberadamente estereotipada, mas também com empatia e bom humor, a vida de um largo segmento da população feminina inglesa (e não só), foi um sucesso imediato e inesperado. A sua autora revelou-se ser a jornalista e escritora Helen Fielding que rapidamente passou a sua criação (a que não escapavam características autobiográficas) a livro, em O Diário de Bridget Jones (1996), seguido por O Novo Diário de Bridget Jones (1999). Em 2013, saiu um terceiro título, Bridget Jones – Ele Dá-me a Volta à Cabeça. Foram todos best-sellers, como se esperaria. Entretanto, entre 1997 e 1998, Fielding saiu do The Independent e foi para o The Daily Telegraph, levando consigo a sua heroína. Em 2005, regressaram ambas ao
O Pátio das Antigas: Sol a Sol, o primeiro “drugstore” de Lisboa

O Pátio das Antigas: Sol a Sol, o primeiro “drugstore” de Lisboa

Antes do Tutti Mundi, antes do Apolo 70, antes do Imaviz, antes das Amoreiras, antes de qualquer outro, pequeno ou grande, de bairro ou para servir toda a cidade, o Sol a Sol foi o primeiro drugstore (como se chamavam então os centros comerciais, à moda dos EUA) de Lisboa. O Sol a Sol abriu a 20 de Dezembro de 1967 e situava-se, muito discretamente (tal como discreto era o seu letreiro), na cave de um prédio da Avenida da Liberdade, um pouco abaixo do edifício do Diário de Notícias, e logo a seguir à Rua Alexandre Herculano (as traseiras davam para a Rodrigues Sampaio). Fundado por um grupo de empresários, o Sol a Sol estava aberto das 9.30 à 01.00, o que só por si era uma grande novidade no comércio lisboeta. Havia 33 lojas, do oculista à florista, da sapataria à agência de viagens, passando por uma bem recheada discoteca e uma loja de posters que se tornou numa sensação entre os mais jovens. E até tinha música ambiente. “O drugstore da Avenida”, como também lhe chamavam, teve logo a atenção da imprensa e poucos dias após ter sido inaugurado, o Diário de Lisboa dedicou-lhe um artigo, com o título “A Carnaby de Lisboa fica numa cave da Avenida”, numa alusão à Carnaby Street londrina. Houve também quem não gostasse e dissesse que o Sol a Sol parecia “uma catacumba” e era “não aconselhável aos claustrofóbicos”. Fechou alguns anos depois, ainda antes do 25 de Abril. Coisas e loisas de outras eras + O cinema e a fotografia segundo a Pathé-Baby + As várias vidas do Restaurante Avi
O fantasma especial de Steven Soderbergh

O fantasma especial de Steven Soderbergh

Steven Soderbergh não só é capaz de fazer todo o tipo de filmes, de grandes produções de estúdio com gordos orçamentos e muitas vedetas, a fitas independentes com pouco dinheiro e actores menos ou nada conhecidos, e em todos os géneros, como também de conseguir transformar qualquer história, qualquer acontecimento, num filme. A história de A Presença, a sua nova realização, uma fita de fantasmas (estreia-se esta semana), baseia-se em algo que aconteceu há pouco tempo na sua moradia de Los Angeles. Ou seja, desta vez, Soderbergh nem sequer precisou de sair de casa para ter uma ideia para um filme. O realizador e a família estiveram ausentes de casa por algum tempo e pediram a uma amiga que ficasse lá e tomasse conta dela enquanto eles estavam fora. Uma noite, a amiga estava a ver televisão na sala quando viu alguém no fundo do corredor a ir da casa de banho para um dos quartos. Mas constatou que não havia ninguém em casa, e telefonou logo ao realizador de Sexo, Mentiras e Vídeo a contar o que tinha acontecido. Quando regressou, Steven Soderbergh descobriu que um antigo morador tinha morrido lá em casa, e em circunstâncias nunca resolvidas, segundo os vizinhos, que lhe disseram não acreditar na versão oficial de suicídio da polícia. Teriam o realizador e a sua família uma assombração em casa? Não voltou a haver nenhuma manifestação, mas Soderbergh, inspirado pelo sucedido, imaginou como seria se houvesse um fantasma numa casa e uma família com problemas se mudasse para lá, o qu
‘A Complete Unknown’: Bob Dylan em Nova Iorque

‘A Complete Unknown’: Bob Dylan em Nova Iorque

James Mangold, o realizador de A Complete Unknown, não gosta que digam que o seu filme é um “biopic” de Bob Dylan. Como declarou numa entrevista à revista Vogue: “É uma forma de deitar um filme abaixo, de o desmerecer. É um termo usado de forma pejorativa para indicar uma história que vai do berço até à sepultura do biografado, com muitas participações breves de pessoas famosas, que entram e saem rapidamente. Quando as pessoas usam esse termo, querem dizer que um filme não ganhou o direito à sua própria gravidade emocional – que está a viver à conta de aparências daquilo ‘que aconteceu na realidade’ para se atribuir uma integridade de obra de arte que poderá não ter.” Escrito pelo próprio Mangold e por Jay Cocks, e baseado no livro de 2015 Dylan Goes Electric!, de Elijah Wald, A Complete Unknown abrange cinco anos da vida e da carreira de Bob Dylan (interpretado por Timothée Chalamet), entre 1961 e 1965. A história vai da sua chegada a Nova Iorque, onde se instalou em Greenwich Village, quando era um desconhecido, até chegar à fama, ser considerado o porta-voz de uma nova geração e fazer a lendária actuação “eléctrica” no Festival de Música Folk de Newport, em que incorreu na fúria de um público purista que esperava um concerto acústico e não de rock n’roll com um grupo, e que marcou um novo ciclo na carreira de Dylan, bem como uma nova etapa na música pop/rock. Entre os vários nomes que se cruzam com ele ou o acompanham em A Complete Unknown, e que foram importantes, pessoal
‘O Brutalista’: a saga americana de um arquitecto europeu

‘O Brutalista’: a saga americana de um arquitecto europeu

Depois de ter conquistado o Prémio de Melhor Realização no Festival de Veneza e os Globos de Ouro de Melhor Filme Dramático, Realizador e Actor, O Brutalista, de Brady Corbet (Vox Lux) foi agora nomeado para dez Óscares. O filme vem juntar-se a vários outros sobre arquitectura, ou que têm um arquitecto como principal protagonista, como é o caso de Vontade Indómita, de King Vidor (1949), baseado no livro The Fountainhead, de Ayn Rand, e sem dúvida o melhor de todos deste género; A Barriga de um Arquitecto, de Peter Greenaway (1987); O Arquitecto, de Matt Tauber (2006); o igualmente intitulado O Arquitecto, de Jonathan Parker (2016); ou, mais recentemente, Megalopolis, de Francis Ford Coppola.  Adrien Brody interpreta László Tóth, um talentoso arquitecto húngaro que estudou na Bauhaus, sobreviveu à II Guerra Mundial e aos campos da morte nazis, e chega aos EUA em 1947 como refugiado, tendo deixado para trás a mulher, Erzsbéth (Felicity Jones), e uma jovem sobrinha órfã, Zsófia (Raffey Cassidy), retidas pela burocracia soviética. Tóth é acolhido por um primo que vive confortavelmente com a mulher em Filadélfia, e tem que se resignar a trabalhar na empresa de móveis daquele, fazendo tarefas que pouco ou nada têm a ver com a sua formação e o seu enorme valor profissional. A sua situação muda quando conhece o rico e esclarecido Harrison Van Buren (Guy Pearce), homem com interesses artísticos e bom gosto, que lhe encomenda um arrojado edifício modernista, misto de biblioteca, teatro