André Almeida Santos

André Almeida Santos

Listings and reviews (26)

Antes do Adeus

Antes do Adeus

2 out of 5 stars
O Capitão América Chris Evans fez uma pausa no seu ofício de salvar o mundo para ajudar uma rapariga desamparada em Nova Iorque. Na sua primeira aventura atrás da câmara, Evans manteve as coisas simples. A história vive das suas interacções com Brooke (Alice Eve), que conhece na noite em que tudo se desenrola. Estão sem sítio para onde ir e com os corações em paragens nebulosas. Antes do Adeus vive de centenas de filmes assim, que copiam o tom do romance de algum cinema independente americano e transformam-no em algo mais digerível para o grande público. Talvez Evans quisesse protagonizar um filme desse tipo e esta foi a sua solução: assumir o controlo. Mas a inexperiência e a obrigação à fórmula levam-no a filmar personagens unidimensionais, apenas dedicadas ao basilar da acção.
Os Sete Magníficos

Os Sete Magníficos

3 out of 5 stars
Sinal dos tempos, na versão de Os Sete Magníficos de Antoine Fuqua os bandidos não são meros ladrões como no filme de 1960 de John Sturges ou naquele que inspirou esse, Os Sete Samurais (1954) de Akira Kurosawa. É um vilão (Peter Sarsgaard) que se quer apoderar de uma vila para explorar as minas em volta. Perde-se a “inocência” do roubo, do saque, da apropriação, ganha-se em contexto do mundo actual: o homem/vilão objectivista, que, bem analisado, é derivado do de Ayn Rand. Isso dá cartas nesta versão, mas não há uma boa correspondência com o resto. Perdem-se nos laços que unem os tais sete magníficos, que numa correria formam o grupo que irá defender aquela pequena comunidade, sem existir grande impacto do seu passado/personalidade, salvo três excepções e meia: Vincent D'Onofrio, Chris Pratt, Byung-hun Lee e a meia vai para Denzel Washington, com mais tempo de antena. Apesar do ambiente e do esforço, Fuqua não fez um western, mas um filme de acção com cavalos, pó e algum whisky bom para a cirrose. André Almeida Santos
Se as Montanhas se Afastam

Se as Montanhas se Afastam

4 out of 5 stars
O ponto de partida de Se as Montanhas se Afastam é Shen Tao (Tao Zhao), a rapariga por quem todos se sentem tentados numa cidade chinesa. Entre o tipo rico e o tipo mais modesto, ela escolhe o tipo rico. Neste momento a história está em 1999, viragem de século, a excitação da mudança e do que um novo século trará, não só para as personagens, como também para a China e para o mundo. Esse é o primeiro episódio em volta da vida de Shen Tao, Jia Zhangke transporta depois a acção para o presente (2014) e para o futuro (2025). O título deixa latente a sensação de mudança e os três momentos escolhidos são um trabalho sobre a excitação da mudança, do confronto com a realidade; sobre as expectativas e até que ponto estas estão alinhadas com o que acontece. Apesar dos três momentos seguirem uma linha cronológica, a relação com eles, após o final, é uma de constante avaliação sobre o que realmente significam. O tempo é apenas um contexto - passado, presente e futuro - ou conceitos, se se preferir, e Se as Montanhas se Afastam cria uma relação inesgotável entre eles. No final, 26 anos passaram, mas fica a sensação de que se voltou ao início, à excitação de 1999. Como se nada se tivesse mudado.  André Almeida Santos
Salsicha Party

Salsicha Party

4 out of 5 stars
Pode um filme com produtos de supermercado animados ser uma excelente fábula sobre a relação dos humanos com a religião e, consequentemente, com a coexistência de diferentes religiões e, claro, o ateísmo? A história desenvolvida por Seth Rogen, Evan Goldberg e Jonah Hill é um esforço bem dirigido para tornar isso possível. Salsicha Party é uma das melhores comédias do ano. Há uma promessa da qual todos os produtos de supermercado se convenceram: de que ao serem escolhidos por um humano, que são vistos como deuses, irão ao encontro do seu grande desígnio. Só que eles desconhecem o que é esse desígnio e todos os horrores que se seguem ao saírem do supermercado. Um pequeno grupo, liderado por Frank (Seth Rogen), ganha consciência da verdade e cabe-lhe a árdua tarefa de convencer os restantes produtos de que estavam errados e de enfrentar os seus deuses. Há uma camada existencial em Salsicha Party que é bem condensada para ser séria e evitar a sisudez do assunto. Corre contra o tempo com níveis de humor bem elevados e encontra boas soluções quando tem de lidar com piadas elementares relacionadas com produtos de supermercado. André Almeida Santos
O Misterioso Louis Drax

O Misterioso Louis Drax

2 out of 5 stars
O Misterioso Louis Drax abre com um tom de fantasia que sugere um filme bem diferente. Louis Drax, uma criança que passa a maior parte da acção em coma, explica a sua peculiar existência e o ambiente à sua volta que o levou até ao dia do acidente, no seu nono aniversário. Em determinados momentos parece que Alexandre Aja queria fazer algo bem diferente do romance de Liz Jensen, porque há um constante oscilar de sensações e sentimentos gerados pela forma como filma e dirige os seus actores: por exemplo, a atitude das forças policiais é desconcertante, é frequente um tom de troça/comédia que está deslocado do resto. André Almeida Santos
Kubo e as Duas Cordas

Kubo e as Duas Cordas

5 out of 5 stars
Os filmes de animação de bons estúdios tendem a maravilhar-se com a reprodução do real, em fazer com que as coisas animadas se pareçam mais com o cinema que não é de animação. O que é bom, só que quando um filme se deixa levar pela sua própria fantasia, como Kubo e as Duas Cordas, é arrebatador. É escuro, hilariante, mágico e comovente. Não cede à vontade de ser um filme só virado para crianças - e nunca o é - e isso dá-lhe uma liberdade que foge à cosmética e filosofia dos filmes da Pixar. Um refresco no cinema de animação virado para um público generalista. Por André Almeida Santos
Bastille Day - Missão Antiterrorista

Bastille Day - Missão Antiterrorista

2 out of 5 stars
O terrorismo e antiterrorismo de Bastille Day mistura-se com a ideia dos 99%. Os temas de fundo que James Watkins trabalha são actuais, mas falha o propósito. Como cinema de género é atabalhoado: há um filme de acção que é ofuscado pela junção de duas personagens (Idris Elba, agente da CIA, e Richard Madden, ladrão) que resulta em algo que se encosta ao engraçado em vez do funcional, e um heist de série B que anula as propostas sérias do argumento. Seria mais bem digerido se quisesse ser só uma coisa. Assim, é uma salada com muito tempero e pouca consistência. André Almeida Santos            
11 Minutos

11 Minutos

4 out of 5 stars
Varsóvia, uma série de histórias que decorrem ao longo de 11 minutos. O melhor de 11 Minutos de Jerzy Skolimowski é como ele consegue metê-las ali, fazendo todo o sentido (o que não quer dizer que sejam boas ou relevantes), e jogar com o tempo delas para inteirar e situar o espectador. Mas, tal como outros filmes que tentam isto, as micro-histórias deixaram as boas ideias no bolso do casaco (e o casaco esquecido num café) e tudo acaba com aquele momento em que todas as personagens se cruzam e, por uns segundos, o espectador pensa que vai ter respostas para o sentido da vida. Mas não. Skolimowski já esteve mais perto disso noutros filmes.    André Almeida Santos
Cartas da Guerra

Cartas da Guerra

4 out of 5 stars
Cabem muitas histórias em Cartas da Guerra de Ivo Ferreira, adaptação da correspondência trocada entre António Lobo Antunes e a sua mulher, Maria José, durante a guerra colonial, ao longo de dois anos. Há a inevitável história de amor de um homem de 28 anos que parte para o desconhecido e amadurece a vários níveis ao longo desse processo, e que se entrega física e intimamente nessas cartas; e de uma mulher que, embora não tenha saído da sua realidade, enfrenta a novidade: de um marido ausente, de um recém-nascido, de construir uma vida à distância. E é fascinante como Ivo Ferreira preenche esse espaço, entregando ao espectador esse, ou esses, sentimento(s).   E há, claro, o resto: a guerra colonial, o ridículo da guerra em si, a política e a ideia de um país que embora saiba no que se meteu, não sabe bem no que se meteu. Existe em Cartas da Guerra uma condensação de vários estados e momentos, a partir de uma comunicação muito particular, que segreda aos ouvidos e se mostra aos olhos do espectador emconformidade com a intimidade do casal Lobo Antunes.   André Almeida Santos
O Sr. Perfeito

O Sr. Perfeito

2 out of 5 stars
A ideia de amor, a pessoa perfeita, é como procurar um doce da casa que seja realmente bom. Há uma altura em que se percebe que o doce da casa dificilmente prestará e desiste-se da ideia. E aqui há logo dois problemas. Um, fica-se sempre na dúvida se o doce da casa do sítio X é “aquele” (e não se pede com vergonha de ser-se gozado). Dois, se for mesmo bom se calhar não era mal pensado o restaurante ter novas ideias para o branding da coisa além de “doce da casa”. Ou seja, encontrar a pessoa perfeita ou um ideal de perfeição no amor é mesmo muito difícil (talvez impossível, talvez não passe de um conceito) – ou então é preciso ter uma sorte do caraças. Martha (Anna Kendrick) tem uma sorte do caraças. Bem, mais ou menos. O Sr. Perfeito começa com ela a ser traída. Uns minutos à frente conhece Francis (Sam Rockwell), o tal Sr. Perfeito. E é-o, em parte. Até ela descobrir que ele é um assassino que anda a fugir dos tipos que o contratavam até há uns tempos. Saltando esse pormenor, é verdade que eles até são perfeitos um para o outro. Um casal giro e tudo mais. O filme é que não vai além da graça “apaixonei-me por um assassino”. Bem, não se pode ter tudo. André Almeida Santos
Mistérios de Lisboa

Mistérios de Lisboa

5 out of 5 stars
Há seis anos, Camilo Castelo Branco e os Mistérios de Lisboa surgiram no cinema e televisão pela mão do chileno Raúl Ruiz. Um filme com mais de quatro horas e uma série de TV com outras seis encheram de orgulho quem se fascina por isto ser uma produção portuguesa. Cinco anos após a morte do realizador, Mistérios de Lisboa regressa às salas portuguesas nas duas extensões, filme e a série de seis episódios, com o tratamento remasterizado.   É uma obra lindíssima e mágica, um excelente trabalho em volta dos escritos de Camilo Castelo Branco pela mão de Carlos Saboga e com um conjunto de interpretações notáveis, especialmente a de Adriano Luz. É um dos filmes mais notáveis da filmografia de Raúl Ruiz, provavelmente o melhor que realizou nas suas duas últimas décadas de vida, e os minutos a mais da versão série acentuam os pormenores de como as múltiplas narrativas se cruzam e desenvolvem algo de épico, sem as características foleiras que por vezes se associam ao “épico”.   André Almeida Santos
A Comuna

A Comuna

3 out of 5 stars
Na década de 1970 um casal de classe média, Erik (Ulrich Thomsen), professor de arquitectura, e Anna (Trine Dyrholm), pivô na televisão, compram uma casa gigante para tentarem o ideal de uma comuna, convidando um número razoável de pessoas para construírem a sua própria utopia. Há um plano estabelecido, com um conjunto de regras para tornar aquele território numa espécie de pequeno paraíso na Dinamarca.   A história é ligeiramente inspirada na vida de Thomas Vinterberg, que cresceu numa dessas comunas. Há uma grande sensação de controlo ao longo de quase duas horas, o que é típico do realizador, mas escasseia o tom provocatório dos seus melhores filmes. A partir do momento que há uma ruptura (Erik envolve-se com uma estudante, o que destruirá o seu casamento), A Comuna aproxima-se de uma narrativa entre a sitcom e a telenovela, o que lhe fica bem nas situações dentro de casa, mas que está um pouco fora de tom nos restantes cenários.   André Almeida Santos