Cartas da Guerra
Cabem muitas histórias em Cartas da Guerra de Ivo Ferreira, adaptação da correspondência trocada entre António Lobo Antunes e a sua mulher, Maria José, durante a guerra colonial, ao longo de dois anos. Há a inevitável história de amor de um homem de 28 anos que parte para o desconhecido e amadurece a vários níveis ao longo desse processo, e que se entrega física e intimamente nessas cartas; e de uma mulher que, embora não tenha saído da sua realidade, enfrenta a novidade: de um marido ausente, de um recém-nascido, de construir uma vida à distância. E é fascinante como Ivo Ferreira preenche esse espaço, entregando ao espectador esse, ou esses, sentimento(s).
E há, claro, o resto: a guerra colonial, o ridículo da guerra em si, a política e a ideia de um país que embora saiba no que se meteu, não sabe bem no que se meteu. Existe em Cartas da Guerra uma condensação de vários estados e momentos, a partir de uma comunicação muito particular, que segreda aos ouvidos e se mostra aos olhos do espectador emconformidade com a intimidade do casal Lobo Antunes.
André Almeida Santos