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O ano era 2009 quando Emílio de Mello e Fernando Eiras subiram pela primeira vez ao palco do mesmo centro cultural no Flamengo. A estreia de In On It movimentou o cenário teatral ao trazer estes dois grandes artistas do nosso tempo encarnando – com impressionante agilidade – uma penca de personagens.
Uma década e meia depois, eles revisitam a narrativa em espiral sobre alguém que sofre um acidente fatal, dois amantes que veem seu amor terminar e dois homens que contam esta história. O espetáculo reestreia nesta quinta, dia 11 de julho, no rebatizado Teatro Futuros, mais uma vez com a rica direção de Enrique Diaz.
Muita coisa mudou no Brasil nestes últimos 15 anos, mas o valor do texto assinado pelo premiado dramaturgo canadense Daniel MacIvor segue relevante, especialmente por sua capacidade de refletir as complexidades e contradições da experiência humana.
É sobre isso que os dois protagonistas conversam, a pedido da Time Out. E também sobre reviver estes papéis depois de tanto tempo. Um gostinho da química que poderá ser vista no palco até o dia 1º de setembro. Vale a pena ver de novo, com certeza.
Fernando Eiras: Você considera que a peça, hoje em dia, conversa com a atualidade?
Emílio de Mello: Acho a peça atualíssima. Aliás, acho que ela está mais atual agora do que na época em que ela foi escrita. Hoje ela está um pouco mais óbvia. A peça trata de questões humanas, então é amor, perda, arrependimento, psicanálise, enfim, coisas que estão sempre no radar da atualidade. Por isso, talvez ela converse até muito com a atualidade, mas quem vai dizer isso mesmo será o público.
Fernando Eiras: Qual a sensação de usar seus recursos de ator para a peça depois de uma década?
Emílio de Mello: Eu sou um outro ator e você também é. Essa alquimia destes novos atores nos coloca para fazer a peça de forma diferente, entendendo e pensando de outra forma. A experiência que a gente viveu durante esses 15 anos são colocadas agora a serviço desse novo In On It, dessa nova maneira de fazer esses personagens e de encarar esse espetáculo.
Fernando Eiras: Por que os teatros estão repletos de público?
Emílio de Mello: Porque o teatro é fundamental, sempre foi. Passamos momentos difíceis, como a pandemia e uma certa demonização das artes durante um período. Agora as pessoas estão podendo, de novo, usufruir dos espetáculos e das peças, enfim. A gente precisa do teatro, principalmente nesse mundo da internet cheio de telas, essa arte promove a possibilidade de se desligar e se conectar no "aqui e agora". É uma experiência insubstituível.
Emílio de Mello: Qual o prazer de fazer In On It 15 anos depois?
Fernando Eiras: Em primeiríssimo lugar é potencializar o jogo de cena com você e com o Kike [Enrique Diaz], simplesmente porque nossos inconscientes já combinaram tudo. Depois, porque o texto de Daniel Macivor não se esgota e concordo que ele conversa com o mundo que vivemos agora.
Emílio de Mello: Você tem um personagem preferido ou mais divertido?
Fernando Eiras: Meu personagem preferido não é meu, é seu. Mas, na verdade, o mais divertido é o teatro.
Emílio de Mello: Quais as músicas traduzem o espírito da peça?
Fernando Eiras: "Sunshine, Lollipops and Rainbows", da Leslie Gore, e "Solitude", do Louis Armstrong e Duke Ellington, além da voz trágica de Maria Callas também.