[title]
Em uma tarde no final de julho de 2009, mãe e filha inauguraram um negócio familiar na Zona Norte. Valéria e Mariana Rezende tocaram juntas o Bar da Frente por uma década, no número 388 da Rua Barão de Iguatemi, na Praça da Bandeira. Sim, o endereço do estabelecimento permanece o mesmo até hoje – coisa rara em uma cidade cuja especulação imobiliária faz um constante troca-troca de caixas postais.
Durante estes 15 anos, o bar ficou conhecido pela pegada raiz e petiscos criativos. Atire a primeira pedra quem nunca mergulhou uma coxinha no creme de queijo – carentes de frio, os cariocas agradecem pela inventiva junção entre fondue e o popular salgadinho. A gastronomia popular e o ambiente informal fidelizaram uma clientela que está sempre batendo ponto por lá. Com ela, é claro, vêm junto uma porção de histórias.
Um casamento, um parto e um funeral
No primeiro ano do bar, uma amiga de Mariana Rezende decidiu ir morar com o namorado. O casal apaixonado reservou o espaço para fazer um chá de panela. Mas por que parar por aí? A animação tomou conta e decidiram preparar um casamento surpresa, com direito a buquê, celebrante e entrada triunfal acompanhada do pai. Juntar os laços em meio à boemia deve dar sorte, afinal, estão juntos até hoje.
Recomendado: No aniversário de uma década da Hocus Pocus, descubra 10 segredos sobre a marca
Anos depois, uma cliente estava com 41 semanas de gravidez e não entrava em trabalho de parto por nada. O marido, sem saber o que fazer, sugeriu um momento de relaxamento no bar. Bastou a mamãe dar as primeiras mordidas em um bolinho que começaram as contrações. A irmã, obstetra, estava presente e ficou acompanhando tudo de perto. Resultado: deu tempo de pedir a saideira antes de ir para a maternidade. A criança hoje está com 6 anos de idade.
Na tradição negra, gurufim é um velório popular com música, danço, canto e muitas homenagens ao falecido. Em 2019, quando dona Valéria se foi, o Bar da Frente decidiu não chorar. Depois do enterro, em um sábado de manhã, familiares e amigos se reuniram no local e beberam até o cerrar das portas. Um dia alegre no meio da tristeza de perder alguém tão amado.
“Essas histórias representam um pouco do que é um botequim: um lugar onde a vida acontece. Todas as partes dela”, resume Mariana.