Nem precisa dizer que foi no Rio de Janeiro que Eduardo Paes nasceu, em 1969. Em seu terceiro mandato como prefeito, ele é a personificação do espírito carioca: adora Carnaval e pode ser visto por aí curtindo uma bela roda de samba. Aliás, não é difícil esbarrar com o cara, pois ele está sempre vivendo intensamente a cidade. Filiado ao Partido Social Democrático, Paes mostra carisma até quando está rebatendo críticas. E nesse clima descontraído, apontou para a Time Out lugares imperdíveis para um turista, bem como adiantou novidades que vão pintar logo menos no Rio. Confira a conversa.
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Na sua opinião, o que é que um turista deve visitar além dos pontos já conhecidos? Como um completo apaixonado pela mais maravilhosa das cidades, sou suspeito, mas garanto que o Rio é todo irresistível. Basta um dia para morrer de amores pela cidade e se tornar um carioca de coração. Claro que já existe um roteiro que faz parte do imaginário de qualquer turista, mas temos outros cantos imperdíveis. O Centro e a Região Portuária viraram o novo xodó. O Projeto Porto Maravilha [que derrubou o Elevado da Perimetral, viaduto de concreto que servia de barreira para a Baía de Guanabara] conseguiu presentear a cidade com uma nova orla bem na área central. Os galpões, armazéns e praças dali recebem eventos e festas dia e noite. Os novos museus já viraram cartão-postal. Fora a restauração e preservação de marcos importantes da cultura afro-brasileira e afro-carioca.
Lugares que foram o berço do nosso samba, uma das suas paixões.
O que o Rio tem de melhor são as rodas de samba, que fazem o clima de Carnaval durar o ano todo. É até difícil escolher: Pedra do Sal, Feira da Glória aos domingos, o Samba do Trabalhador, do meu amigo genial Moacyr Luz, às segundas, Cacique de Ramos... Fora as quadras das escolas. Todas são maravilhosas, claro, mas eu indico a quadra da minha Portela, em Oswaldo Cruz.
Como conciliar trabalho e lazer durante o Carnaval, que é uma das suas grandes paixões?
Esse é um período que a cidade aguarda ansiosamente. Para cariocas e turistas, é um momento de celebração. Para o município, o impacto é gigante. O Carnaval de 2024, por exemplo, rendeu mais de cinco bilhões de reais à economia do Rio. Eu, como um prefeito orgulhosamente folião, tenho enorme prazer em receber na Sexta de Carnaval, no Palácio da Cidade, o Rei Momo, para que ele abra oficialmente a folia. Se a diversão fica por conta do monarca até a Quarta-feira de Cinzas, o trabalho continua firme com a gente da Prefeitura. Mas você vai me ver todas as noites no Sambódromo, o melhor lugar do mundo, É trabalho e diversão. Eu, que já durmo pouco, durmo menos ainda nesses dias.
Onde você gosta de comer e beber na cidade?
Já que falamos da Zona Norte, vou listar alguns dos meus bares favoritos na região: Cachambeer, Momo, Madri, Adonis, Bar da Portuguesa. A especialidade é a combinação de cerveja gelada com aquelas iguarias que só a gastronomia dos botecos cariocas oferece. Para comer e beber bem, recomendo também o Cadeg e a Feira de São Cristóvão. Na outra ponta da cidade, na região de Guaratiba, na Zona Oeste, tem um polo gastronômico com restaurantes de frutos do mar simplesmente maravilhosos.
Quais outros segredos a Zona Oeste guarda?
Quem estiver por aquela área tem que conhecer o Sítio Burle Marx, onde viveu o maior paisagista brasileiro e que reúne um acervo gigantesco de espécies de plantas. E, falando em natureza, lá tem algumas das praias mais bonitas do Rio, como a Prainha e a Praia da Reserva.
Quando você está fora da cidade, do que mais sente falta?
Dos cariocas, com certeza. Não existe povo como o carioca. E nem precisa ter nascido no Rio. A carioquice é um jeito muito único e especial de levar a vida. Os cariocas são sorridentes, irreverentes, acolhedores, realizadores, gostam de celebrar e também têm uma imensa capacidade de trabalho. Tenho um orgulho gigante de ser o prefeito de todos os cariocas – os de origem e os por escolha.
Em quais aspectos o Rio ganha de São Paulo?
São duas cidades incríveis e complementares. Costumo dizer que um dos ativos do Rio de Janeiro é justamente ser vizinho de São Paulo, e, da mesma forma, é uma grande vantagem para São Paulo ter o Rio ao lado. Mas as duas cidades têm perfis e vocações diferentes.
Qual a vocação do Rio?
O Rio já foi palco da Rio-92, da Rio+20, da final da Copa de 2014, dos primeiros Jogos Olímpicos e Paralímpicos da América do Sul, em 2016, e agora se prepara para receber a Cúpula do G20 em novembro. Entendemos que grandes eventos são uma alavanca importante para movimentar a economia e projetar internacionalmente a cidade. Organizamos todos os anos o maior Réveillon e o maior Carnaval do mundo. Agora mesmo, a Madonna escolheu encerrar a sua turnê de 40 anos de carreira num show histórico na Praia de Copacabana.
E para além dos eventos?
Nossa aspiração é transformar o Rio na capital da inovação da América Latina e temos trabalhado fortemente para isso. Inauguramos o Porto Maravalley, um hub de tecnologia na Região Portuária para atrair empresas e startups. Ali também foi aberto o IMPA Tech, a Faculdade da Matemática do Rio, que é a primeira graduação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). Trouxemos para cá o Web Summit, o maior evento de tecnologia e inovação do mundo, que já teve duas edições na cidade. Tudo isso para fazer do Rio cada vez mais um ecossistema acolhedor e atraente para a essa nova economia digital e disruptiva.
Qual a sua principal memória de infância no Jardim Botânico?
A gente sempre guarda memórias muito afetivas da infância, né? Acho que menos pelo lugar e mais pelas pessoas com quem a gente convivia naquele tempo. Todos juntos e misturados: primos, tios, irmãos, e, claro, minha mãe e meu saudoso pai. Como a gente morava ao lado da TV Globo, lembro que eu, sempre curioso, me divertia muito com as gravações de novelas ali no bairro.
De lá para cá, como vê as mudanças que a cidade passou?
A principal é que temos trabalhado para reverter uma tendência que marcou boa parte da história da ocupação do Rio – que é a fuga para o oeste. Ao longo dos anos, áreas centrais e do subúrbio, onde se formou a identidade carioca, foram sendo abandonadas e esvaziadas, e as regiões mais afastadas acabaram se tornando a nova fronteira de moradia. Queremos recuperar e requalificar bairros do Centro, da Região Portuária e da Zona Norte, para que os cariocas voltem orgulhosamente a viver ali.
E o que vem de novidade?
A Zona Norte vai ganhar em breve mais dois parques: o Parque Piedade, onde funcionava o antigo campus da Universidade Gama Filho, e o Parque Pavuna. Novas áreas de lazer também serão abertas na Zona Oeste, que já conta com o Parque Radical de Deodoro e o Parque Rita Lee, legados olímpicos. Já, já serão inaugurados o Parque Realengo e o Parque Oeste, em Inhoaíba.
Você é conhecido por viver muito a cidade, nos bons e nos maus momentos. De onde você tira tanta energia?
É fácil de explicar. Para mim, é mais do que trabalho – é amor ao Rio. Tenho o melhor emprego do mundo: ser prefeito da cidade mais maravilhosa e do povo mais incrível. Todos os dias eu me belisco para ver se não estou sonhando. A casa oficial do prefeito fica perto da Vista Chinesa e, cada vez que eu paro e olho aquela vista, a mais bonita da cidade para mim, me apaixono ainda mais. Tenho certeza de que todos os outros governantes do Brasil e do mundo morrem de inveja de mim.