Amanda Gonze
Exorcismo artístico
"Gosto muito de trabalhar com a imperfeição". A frase da artista Amanda Gonze, de 30 anos, é sobre uma de suas obras: um espelho quebrado emoldurado por uma cerâmica pintada. "Muitos artistas não conseguem terminar um trabalho porque ficam presos a uma expectativa, mas esquecem que ela só existe dentro deles, não em quem vai ver aquilo", pontua, certeira.
A jovem de Nova Iguaçu começou a pintar quase por acaso, durante a pandemia. Antes disso, ela chegou a ter uma banda chamada Flores para Ramona, mas não costumava colocar a mão na massa – pelo menos não literalmente. Procurando formas de se distrair no isolamento, começou a pintar telas coloridas, que logo caíram no gosto de amigos. Postagem vai, postagem vem, as redes sociais começaram a bombar e ela percebeu que isso poderia ser um trabalho.
O próximo passo foi materializar tudo. "Sempre gostei de stop motion e comecei a ter vontade de criar coisas para serem tocadas", lembra ela, que mergulhou no mundo da cerâmica e começou a produzir as peças que ganhariam suas pinceladas. Em seu variado acervo, além de molduras, tem objetos decorativos, candelabros, incensários, cabideiros e o que mais a imaginação permitir. "Aprender nunca é demais e quero explorar tudo o máximo que eu puder", garante Amanda.
Quando criança, inspirada pelo universo do Studio Ghibli, adorava desenhar mangás. Não à toa, seus traços tem um toque oriental, mas também trazem muita brasilidade. A artista, inclusive, foi contemplada para participar do Jaguar Parade, realizado no Rio este ano, e a onça pintada por ela ganhou o nome de “Delírio Tropical”, embelezando por semanas o Village Mall antes de ser leiloada.
Quando o processo é autoral, Amanda costuma criar seres que chama de Gonzitos – uma referência ao seu sobrenome. “Durante a quarentena, fiz muita terapia e a minha psicóloga dizia que eu precisava colocar os meus demônios para fora. Foi exatamente o que fiz”, lembra. Pois quem vê de cá, só enxerga neles perfeição.