Carnaval na Marquês de Sapúcaí
Divulgação/LiesaCarnaval na Marquês de Sapúcaí
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Tudo o que você precisa saber sobre os desfiles do Carnaval 2024

Veja os enredos, sambas e ordem dos desfiles do Grupo Especial

Renata Magalhães
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Falta pouco para começar o maior espetáculo da Terra: as doze escolas do Grupo Especial entram na Marquês de Sapucaí nos dias 11 e 12 de fevereiro. Os povos originários inspiraram a Grande Rio e a Salgueiro, enquanto a Porto da Pedra e a Portela partiram de dois livros bem distintos para compor seus enredos. A Mocidade vai homenagear uma fruta, a Mangueira voltou seu olhar para a trajetória da cantora Alcione e a Unidos da Tijuca carimbou o passaporte para uma viagem até Portugal. Com temáticas bem variadas, as agremiações prometem encantar o mundo inteiro. Confira abaixo a ordem e os horários estimados para cada desfile, as sinopses e as letras dos sambas de cada uma delas.

Os desfiles do primeiro dia

22:00: Unidos do Porto da Pedra

Enredo: O Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular
Desenvolvido pelo carnavalesco Mauro Quintaes e pelo enredista Diego Araújo, o tema do Tigre de São Gonçalo se baseia em saberes populares que foram transcritos para um pequeno livreto, o “Lunário Perpétuo”, de 1594. O artefato ganhou notoriedade servindo como conselheiro e orientador de homens e mulheres de forma esotérica, cultural e social. Duzentos anos depois, ele veio para o Brasil. 

Letra do samba:

Olhe pro céu onde a lua vagueia
As estrelas brilham no chão
Sabedoria é a luz que clareia
Porto da Pedra no meu coração

Sou seu lunário! Conselheiro imortal!
Já 'folheando' cada ponto cardeal
Alquimia de almanaque (sou eu, sou eu)
Cada toque no atabaque (sou eu, sou eu)

Quem acendeu as lamparinas desse céu?
No Brasil os retirantes são os astros de cordel
O sertão profetizou, cada flor do Cariri
A 'ciência' desse povo, eu não guardo só pra mim
Separei as folhas secas misturadas no pilão
Confiei à rezadeira uma nova oração

... Só porque eu escolhi, navegar por esse mar!
A viola perguntou para o santo do lugar:
Responda, 'meu Sinhô'! Será que é amor?
Meu povo vai passar!

Tanta gente esperou por esse dia...
O pincel, a cantoria... Nunca foi ponto final!
E lá do 'auto' como a vida é um repente
O estandarte vai na frente
Muito mais que carnaval!
Vem Antônio, vem menino!
Seu destino é cirandar
Um brincante nordestino
A missão: perpetuar!

Quarto minguante, a moringa quase seca
Maré virou... Virou luar!
Tem alambique pra beber na quarta-feira
Okê, caboclo! Tempo bom vem pra ficar!

Quarto minguante, a moringa quase seca
Maré virou... Virou luar!
Tem alambique pra beber na quarta-feira
Faltava o Tigre pro lunário completar!

23:15: Beija-Flor

Enredo: Um delírio de carnaval na Maceió de Rás Gonguila
Um encontro mágico de personagens reais que nunca se viram, guiados pela luz dos encantados e da ancestralidade, com as cores, os ritmos e os pisados dos folguedos das Alagoas. O enredo da agremiação de Nilópolis, com o carnavalesco João Vitor Araújo, vai homenagear a cidade de Maceió por meio do personagem Rás Gonguila, um filho de escravizados que acreditava ser descendente da realeza etíope.

Letra do samba:

Em Maceió
O paraíso deu à luz a um menino
À beira-mar nascia o rei
Que o senhor das ruas deu o seu caminho
Eu acreditei no herdeiro
Da dinastia e das lutas de Zumbi
De Palmares às palmeiras e marés
Da cultura e bravura dos Tupis e Caetés
Ao nobre engraxate um novo horizonte
Real cavaleiro dos montes

Tem mironga, festa da ralé
Malandragem, frevo arrasta-pé
A magia que avoa, o rosário no andor
A cantiga que ecoa é do meu tambor

Gira-mundo feito pião que "gonguila" do jeito
Que eterniza Benedito dos plebeus
Quando encontra a corte africana
A nobreza alagoana realiza os sonhos seus
Vai meu Beija-flor, a soberania popular que traz no batuque de Rás
Num côco, um pouco de samba de roda
E o povo anuncia: é ela!

Delira... 
Tem Pajuçara no mar da Mirandela

Aqui é Beija-flor doa a quem doer
Do gênio sonhador a gana de vencer
Tá no meu peito, tá no meu grito
Escola de respeito que coroa Benedito

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00:30: Acadêmicos do Salgueiro

Enredo: Hutukara  
Com nomes como Arlindinho Cruz, Dudu Nobre e Marcelo Motta na composição, o enredo traz uma importante mensagem de alerta em defesa da Amazônia, em particular dos Yanomami, que sofrem efeitos dos garimpeiros na sua região, além de todas as ações humanas que afetam o meio ambiente e também impactam suas vidas. O desfile está sendo produzido pelo carnavalesco Edson Pereira.

Letra do samba:

"É HUTUKARA! O chão de Omama
O breu e a chama, Deus da criação
Xamã no transe de yakoana
Evoca Xapiri, a missão...
HUTUKARA, ê! Sonho e insônia
Grita a Amazônia, antes que desabe
Caço de tacape, danço o ritual
Tenho o sangue que semeia a nação original

Eu aprendi português, a língua do opressor
Pra te provar que meu penar também é sua dor

Falar de amor enquanto a mata chora, (bis)
É luta sem flecha, da boca pra fora!

Tirania na bateia, militando por quinhão,
E teu povo na plateia, vendo a própria extinção
"Yoasi" que se julga: "família de bem", (bis)
Ouça agora a verdade que não lhe convém:

Você diz lembrar do povo Yanomami em dezenove de abril,
Mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome,
Quando o medo me partiu
Você quer me ouvir cantar em Yanomami pra postar no seu perfil
Entre aspas e negrito, o meu choro, o meu grito, nem a pau Brasil!

Antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom
Somos parte de quem parte, feito Bruno e Dom
Kopenawas pela terra, nessa guerra sem um cesso,
Não queremos sua "ordem", nem o seu "progresso"
Napê, nossa luta é sobreviver!
Napê, não vamos nos render!

YA TEMI XOA! aê, êa! (bis)
Meu Salgueiro é a flecha
Pelo povo da floresta
Pois a chance que nos resta
É um Brasil cocar!"

01:45: Acadêmicos do Grande Rio

Enredo: Nosso Destino É Ser Onça
A partir do livro Meu Destino É Ser Onça, do pensador Alberto Mussa, os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora propõem uma reflexão sobre a simbologia da onça para o povo tupinambá e também para outras culturas. Todo o poder desse animal e seu caráter de força e superioridade poderá ser visto na avenida, bem como temas como antropofagia e encantaria.

Letra do samba:

Trovejou! Escureceu!
O velho onça! Senhor da criação É homem fera!
É brilho celeste, devora e se veste de constelação
Tudo acaba em fogaréu e depois transborda em mar
A terceira humanidade
Cuaraci vem clarear
Ê Sumé nas garras da sua ira
Enfrentou Maira
Tanto perseguiu
Seus herdeiros vivem esta guerra
Povoando a terra
O bicho mais feroz rugiu

É preta, parda, é pintada feita a mão
Sussuarana no sertão que vem e vai
Maracajá, jaguatirica ou jaguar
É jaguarana, onça grande mãe e pai

Yawalapiti, Pankaruru, Apinajé
Na voz do povo Wareté
Na flecha de tupinambá
Do tempo que pinta pedra
A fé de ser encantada
Onça loba, onça alada
Na memória popular

Kiô… kiô kiô kiô kiera
É cabocla e mão torta
Pé de boi que o chão recorta
Travestido de pantera
Kiô… kiô kiô kiô kiera
A folia em reverência
Onde a arte é resistência
Sou Caxias bicho fera

Werá werá aue naurú wera aue
A aldeia Grande Rio ganha a rua
No meu destino a eternidade
Traz no manto a liberdade
Enquanto a onça não comer a lua

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03:00: Unidos da Tijuca

Enredo: O conto de fados 
A escola da Zona Norte embarca em uma viagem para uma Portugal mítica e repleta de fábulas. Um dos protagonistas será o “Fado”, que em seus múltiplos significados, além de representar o gênero musical típico lusitano, traz consigo a ideia de destino e de fabulação. No desfile, o lúdico e o imaginário interagem com as histórias narradas, inventadas e repaginadas.

Letra do samba:

Um samba fadado
Ao mar do outro lado
A pescar histórias, memória ancestral
Viaja na bruma da branca espuma
Pra encantar no Carnaval
Vai buscar
No vasto oceano o heróico Odisseu
Que além do Egeu não se amedrontou
Com uma rainha tão só e carente
Mulher ou serpente que jurou o seu amor
À beira do Tejo nascia Lisboa
A musa das loas dos seus menestreis
Na praia bravia o ouro escorria
E o guardião emergia das mares

Põe no balaio um punhado de magia
Das divindades que invadiam o lugar
Põe no balaio e amassa com carinho
Que do cacho eu faço vinho
Pra colheita festejar


N'alma do fado mil e uma noites
Doces sabores, velho saber
Sonhos de Sagres foi a Matamba,
Herdar o samba, Ifá, dendê
Portugal das glórias que revelam o passado
Ao monstro que sangrou escravizados
E veio aportar no mar
Que brilha sob o céu de Vera Cruz
Um banho de alfazema que conduz
O santo rosário e o povo de fé
Pra cantar o fado tijucano
Macumbado de amém e axé

Gira baiana perfumada de alecrim
Que a Unidos da Tijuca defuma no benjoim
Roda na gira a saia de linho rendado
Que o fado vira samba, e o samba vira fado

04:15: Imperatriz Leopoldinense

Enredo: Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda
A Rainha de Ramos busca o bicampeonato com um enredo do carnavalesco Leandro Vieira inspirado em um pequeno folheto sobre o encontro do testamento da cigana Bruges de Esmeralda e seus ensinamentos místicos. Trata-se de mais um enredo autoral que é inspirado na obra escrita há mais de 100 anos por Leandro Gomes de Barros.

Letra do samba:

Ê cigana, a caravana está em festa
Tem fogueira, dança e seresta
Nesta avenida da ilusão
Ao som de violão e violino
O verso da mais pura inspiração
Descobri seu testamento e fiz um manual
Sonhei a vida feito carnaval
Em devaneios e magia
Cerquei por todos os lados,
Riscando a fé no talão
Apostei na coroa e no coração

O destino é traçado na palma da mão
E a vida se equilibra em cada linha
Andarilho, sonhador
Na corda bamba do amor
Encontrei minha rainha

(Ô Imperatriz)

Olhei o céu no infinito da constelação
A noite, o véu, eu vi os astros na imensidão
Fui sob à luz das estrelas
Buscar a certeza da minha direção
Ê luar de balançar maré
Meu cantar é um sinal de fé
Prenúncio da sina da minha escola
O sol beija a lua no espelho do mar
Já está marcado no meu calendário
Verde-esmeralda é vitória que virá

O que é meu é da cigana, o que é dela não é meu
Quando chega fevereiro meu caminho é todo seu
Vai clarear… olha o povo cantando na rua

A Imperatriz desfila com a sorte virada pra Lua

Os desfiles do segundo dia

22:00: Mocidade Independente de Padre Miguel

Enredo: Pede caju que dou... Pé de caju que dá!
As histórias, lendas e curiosidades sobre a fruta do cajueiro norteiam o enredo desenvolvido pelo carnavalesco Marcus Ferreira. "O poeta sempre mira a própria terra ao traçar letras e alçar voos. Nada mais natural que ele e seus parceiros, além de outras inspirações, buscassem uma fruta nativa, farta e com certo capricho corporal para explodir em cores toda a revolução tropicalista", diz a sinopse. 

Letra do samba:

Eu quero um lote
Saboroso e carnudo
Desses que tem conteúdo
O pecado é devorar
É que esse mote beira antropofagia
Desce a glote, poesia
Pede caju que dá
Delícia nativa
Onde eu possa pôr os dentes
Que não fique pra semente
Nem um tasco de mordida
E aí tupi no interior do cafundó
Um quiprocó virou guerra assumida

Provou porã, fruta do pé
Se lambuzou, Tamamdaré
O mel escorre, o olho claro se assanha
Se a polpa é desse jeito, imagine a castanha

Por outras praias a nobreza aprovou
Nas redondezas se espalhou, tão fácil, fácil!
E nesta terra onde tamanho é documento
Vou erguer um monumento para seu Luiz Inácio
Nessa batalha teve aperreio
Duas flechas e no meio uma tal cunhã poranga
Tarsila pinta a sanha modernista, tira a tradição da pista
Vai Debret! Chupa essa manga!
É tropicália, tropicana, cajuína
Pela intacta retina, a estrela no olhar
Carne macia com sabor independente
A batida mais quente, deixa o povo provar

Meu caju, meu cajueiro
Pede um cheiro que eu dou
O puro suco do fruto do meu amor
É sensual, esse delírio febril
A Mocidade é a cara do Brasil

 

23:15: Portela

Enredo: Um Defeito de Cor
O enredo de André Rodrigues e Antônio Gonzaga é baseado no romance homônimo da escritora Ana Maria Gonçalves e traz uma outra perspectiva da história, refazendo os caminhos imaginados da história da mãe preta, Luisa Mahim. A saga de uma mulher que incorpora-se a tantas outras que lhe atravessam, ensinam e revigoram, em um legado de persistência na insistência de sobreviver.

Letra do samba:

O samba genuinamente preto
Fina flor, jardim do gueto
Que exala o nosso afeto
Me embala, oh! mãe, no colo da saudade
Pra fazer da identidade nosso dialeto
Omoduntê, vim do ventre do amor
Omoduntê, pois assim me batizou
Alma de Gege e a justiça de Xangô
O teu exemplo me faz vencedor
Sagrado feminino ensinamento
Feito águia corta o tempo
Te encontro ao ver o mar
Inspiração a flor da pele preta
Tua voz, tinta e caneta
No azul que reina Yemanjá

Salve a lua de Bennin
Viva o povo de Benguela
Essa luz que brilha em mim
E habita a Portela
Tal a história de Mahin
Liberdade se rebela
Nasci quilombo e cresci favela!

Orayeye oxum, Kalunga!
É mão que acolhe outra mão, macumba!
Teu rosto vestindo o adê
No meu alguidar tem dendê
O sangue que corre na veia é Malê!
Em cada prece, em cada sonho, nêga
Eu te sinto, nêga
Seja onde for
Em cada canto, em cada sonho, nêgo
Eu te cuido, nêgo cá de onde estou

Saravá Keindhe! Teu nome vive!
Teu povo é livre! Teu filho venceu, mulher!
Em cada um nós, derrame seu axé!

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00:30: Unidos de Vila Isabel

Enredo: Gbalá – Viagem ao Templo da Criação
O samba-enredo de Martinho da Vila embala novamente a escola: neste Carnaval, a Vila Isabel vai reeditar o enredo de 1993. Lá atrás ele foi desenvolvido por Oswaldo Jardim e agora terá como carnavalesco Paulo Barros. Ao recontar essa mágica narrativa de matriz yorubá, será proposta uma reflexão sobre os males que os homens fazem contra o planeta e a possibilidade de nos salvarmos pela candura das crianças.

Letra do samba:

Gbalá é resgatar, salvar
E a criança é a esperança de Oxalá
Gbalá, resgatar, salvar
A criança é a esperança de Oxalá
Vamos sonhar

Meu Deus

O grande criador adoeceu
Porque a sua geração já se perdeu
Quando acaba a criação
Desaparece o criador
Pra salvar a geração
Só esperança e muito amor

Então foram abertos os caminhos
E a inocência entrou no templo da criação
Lá os guias protetores do planeta
Colocaram o futuro em suas mãos

E através dos Orixás se encontraram
Com o Deus dos deuses - Olorum
(E viram)
Viram como foi criado o mundo
Se encantaram com a mãe natureza

Descobrindo o próprio corpo compreenderam

Que a função do homem é evoluir
Conheceram os valores do trabalho e do amor
E a importância da justiça
Sete águas revelaram em sete cores
Que a beleza é a missão de todo artista

01:45: Estação Primeira de Mangueira

Enredo: A negra voz do amanhã
Alcione será a grande homenageada da Verde-e-Rosa, que também fará referências ao Maranhão, terra natal da cantora. A base para a narrativa será os caminhos percorridos pela cantora na construção de seu amanhã. "Esses se dão, principalmente, por suas crenças, que promovem sentido à sua caminhada, aliado à música que lhe acompanha desde menina como missão e a cultura popular que a formata enquanto artista", resume a sinopse. 

Letra do samba:

Xangô chama Iansã
Que a voz do amanhã já bradou no Maranhão
Tambor de Mina, encantados a girar
O divino no altar, a filha de toda fé
Sob as bênçãos de maria, batizada Nazareth
Quis o destino quando o tempo foi maestro
Soprar a vida aos pés do velho cajueiro
Guardar no peito a saudade de mainha
Do reisado a ladainha, São Luis o seu terreiro
Ê bumba meu boi! Ê boi de tradição!
Tem que respeitar Maracanã que faz tremer o chão

Toca tambor de crioula, firma no batuquejê
Ô pequena feita pra vencer
Vem brilhar no Rio Antigo, mostra seu poder de fato
Fina flor que não se cheira não aceita desacato

Vai provar que o samba é primo do jazz
Falar de amor como ninguém faz
Nas horas incertas, curar dissabores
Feito uma loba impor seus valores
E seja o pilar da esperança
Das rosas que nascem no morro da gente
Sambando, tocando e cantando
Se encontram passado, futuro e presente
Mangueira! De Neuma e Zica
Dos versos de Hélio que honraram meu nome
Levo a arte como dom
Um brasil em tom marrom que herdei de Alcione

Ela é Odara, deusa da canção
Negra voz, orgulho da nação

Meu palácio tem rainha e não é uma qualquer
“Arreda homem que aí vem mulher”
Verde e rosa dinastia pra honrar meus ancestrais
Aqui o samba não morrerá jamais

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03:00: Paraíso do Tuiuti

Enredo: Glória ao Almirante Negro!
Desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, que volta à escola de São Cristóvão, o enredo faz uma homenagem a João Cândido, marinheiro brasileiro que se empenhou na luta contra os maus-tratos, a má alimentação e as chibatas sofridas pelos colegas. "Enquanto houver quem defenda ditaduras haverá uma chibata empunhada, afinal não faz muito tempo...", garante Vasconcelos.

Letra do samba:

Nas águas da Guanabara
Ainda o azul de Araras
Nascia um herói libertador
O mar com as ondas de prata
Escondia no escuro a chibata
Desde o tempo do cruel contratador
Eram navios de guerra, sem paz
As costas marcadas por tantas marés
O vento soprou à negrura
Castigo e tortura no porão e no convés

Ôôô A Casa Grande não sustenta temporais
Ôôô Veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais

Lerê lerê mais um preto lutando pelo irmão
Lerê lerê e dizer nunca mais escravidão

Meu nego... A esquadra foi rendida
E toda gente comovida
Veio ao porto em saudação

Ah! nego... A anistia fez o flerte
Mas o Palácio do Catete
Preferiu a traição

O luto dos tumbeiros
A dor de antigas naus
Um novo cativeiro
Mais uma pá de cal
Glória aos humildes pescadores
Yemanjá com suas flores
E o Cais da luta ancestral

Salve o Almirante Negro
Que faz de um samba enredo
Imortal!

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A Cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

04:15: Viradouro

Enredo: Arroboboi, Dangbé
Segundo o carnavalesco Tarcísio Zanon, ele terá a missão de apresentar ao grande público uma África diferente das que já foram retratadas na Sapucaí. O enredo fala sobre a energia do culto ao vodum serpente e quer desdemonizar a religião e a figura da do animal. A ideia surgiu ainda durante a pesquisa da obra de Rosa Maria Egipcíaca, enredo da escola no último carnaval.

Letra do samba:

Eis o poder que rasteja na terra
Luz pra vencer essa guerra, a força do vodun
Rastro que abençoa Agojiê
Reza pra renascer, toque de Adarrum
Lealdade em brasa rubra, fogo em forma de mulher
Um levante à liberdade, divindade em Daomé
Já sangrou um oceano pro seu rito incorporar
Num Brasil mais africano, outra areia, mesmo mar

Ergue a casa de Bogum, atabaque na Bahia
Ya é Gu rainha, herdeira do candomblé
Centenário fundamento da costa da Mina
Semente de uma legião de fé

Vive em mim
A lealdade das irmãs de cor
E a força que herdei de Hundé e da luta Minó
Vai serpenteando feito rio ao mar
Arco-íris que no céu vai clarear
Ayi! Que seu veneno seja meu poder
Bessen que corta o Ayin-agbè
Sagrado Gume-kujo
Vodunsis o respeitam, clamam Kolofée
Os tambores revelam seu afé

Ê Alafiou, ê Alafiá,
É o ninho da serpente, jamais tente afrontar
Ê Alafiou, ê Alafiá,
É o ninho da serpente, preparado pra lutar

Arroboboi meu pai, Arroboboi Dangbê
Destila seu axé na alma e no couro
Derrama nesse chão a sua proteção
Pra vitória da Viradouro

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