As instalações velhas fazem parte do charme. A Viarco, em São João da Madeira, tem um carisma inexplicável: cheira a papelaria antiga e a bancos de escola.
Esta história começa no piso inferior, num armazém negro pintado pelas minas que se espalham pelo chão, por cima das bancada s e no rosto de quem mistura grafite, argila e água para fazer o primeiro passo no processo de fabricação de um lápis: a mina. Esta secção, à qual também chamam de “cápsula do tempo”, está repleta de máquinas em funcionamento desde a fundação da fábrica, em 1936, em Vila do Conde, por Manoel Vieira Araújo.
Daqui seguimos para a arredondagem. Colocam-se duas placas de madeira, já com a forma bruta de um lápis – usam maioritariamente madeira de cedro da Califórnia –, em redor da mina e afina-se o objecto. Por fim, os acabamentos, altura em que os lápis passam por várias camadas de tinta sobre um tapete rolante.
Porém é também neste antigo espaço, repleto de nostalgia, que se fazem alguns dos produtos mais inovadores do segmento. O Art Graf Taylor, por exemplo, é a estrela da companhia: um composto de caulino, pigmento e talco, que resultou numa ferramenta versátil, de forma quadrada, que faz lembrar o giz dos alfaiates. Consoante a forma como for usado, pode ser tinta, pastel, aguarela ou lápis de cor, ou seja, com ele é possível fazer traços mais finos ou mais grossos, usar muita ou pouca água. Como é fácil de imaginar, nem sempre a vida da Viarco foi colorida como os seus lápis de cor. E a marca, que continua a somar pontos, sobretudo lá fora, fá-lo em grande parte graças à persistência dos 25 funcionários que trabalham lado a lado com José Vieira, bisneto do fundador. “O facto de fazermos um objecto que está ligado ao desenvolvimento do ser humano, que é uma ferramenta criadora, faz com que não nos possamos dar ao luxo de deixar a marca morrer”, diz.