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Dragões e Monstros Míticos
© Sara Choupina/ Time Out LisboaDragões e Monstros Míticos, no Tivoli BBVA

Este treinador de heróis quer mostrar aos miúdos o que é ser corajoso

Carlos Agualusa interpreta um treinador de heróis em ‘Dragões e Monstros Míticos’. Conversámos com o actor luso-angolano, que vai subir ao palco do Tivoli BBVA a 18 e 19 de Maio.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Quase trinta quilos. Eis quanto pesa a cabeça de George, uma serpente alada semelhante a um dragão. Manipular o seu corpo inteiro exige mestria – que o digam as marionetistas Amber-Rose Perry e Emily Cooper. Carlos Agualusa gostava de experimentar um dia destes, mas agora está concentrado em interpretar Dave, filho do centauro Quíron, conhecido por treinar heróis como Teseu e Aquiles. O problema é que, ao que parece, o jovem não tem lá muito jeito para o negócio de família. Em três mil anos, nunca treinou ninguém. Resta-lhe fazer figas e esperar para ver o que lhe espera no Tivoli BBVA, onde conta fazer várias aparições no fim-de-semana de 18 e 19 de Maio. “É super interactivo”, antecipa o actor luso-angolano sobre o espectáculo criado por Derek Bond, Dragões e Monstros Míticos.

Dragões e Monstros Míticos
© Sara Choupina/Time Out LisboaAs equipas a prepararem Dragões e Monstros Míticos, no Tivoli BBVA

“Costumo fazer mais cinema do que teatro e este é apenas o meu segundo trabalho em português”, revela Carlos Agualusa, que vive em Inglaterra, onde estudou teatro e cinema na Universidade de Kent. “Perguntaram-me se estaria interessado e eu disse ‘claro’, gravei uma self-tape e depois fui chamado para um casting.” Como é óbvio, correu bem, e o actor teve oportunidade de ver o espectáculo original e ensaiar com o britânico Christopher Dobson e a restante equipa. “Na verdade, também ensaiei com o actor que interpreta o mesmo papel na versão turca. Portanto, tivemos ensaios em três línguas. Não sei falar turco, mas foram três semanas intensas de ensaios e no final senti que, se calhar, conseguia”, confessa, entre risos, antes de admitir que o que mais o surpreendeu foi o tamanho de algumas das marionetas.

Dragões e Monstros Míticos
© Sara Choupina/ Time Out LisboaCarlos Agualusa a interpretar Dave e Amber-Rose Perry a manipular a serpe George em em Dragões e Monstros Míticos, no Tivoli BBVA

“Sabíamos que queríamos um dragão e um unicórnio. Depois, eu e o designer de marionetas Max Humphries mergulhámos numa extensa pesquisa sobre outras criaturas míticas de todo o mundo”, esclarece Derek Bond, que admite ter tentado que “não fossem todas aterradoras e tivessem diferentes poderes e formas”. O Troll de Pedra, por exemplo, foi inspirado nos trolls de Hilda, a série de animação da Netflix, bem como na colecção Discworld de Terry Pratchett. Indrik, por outro lado, é uma amálgama de várias referências: a besta original vem do folclore russo e é descrito como um touro gigantesco com pernas de veado, cabeça de cavalo e um enorme corno no focinho, mas a versão que vemos em palco faz-nos lembrar o alce-irlandês, extinto na última Idade do Gelo, que teria mais de dois metros de altura, com as hastes a medir cerca de 3,5 metros de uma ponta à outra. “O Indrik tem uma função importante na nossa história – só aparece quando há um acto de verdadeiro heroísmo.”

Dragões e Monstros Míticos
© Sara Choupina/ Time Out LisboaDragões e Monstros Míticos

O problema é que, bem, os heróis tendem a matar criaturas míticas. O grego Jasão, herói de Tessália, mata o dragão que guarda o Tosão de Ouro. E Héracles, que os mais novos conhecem como Hércules do filme da Disney, massacrou muitos outros, como o leão de Nemeia e a hidra de Lerna. “Mas eu queria criar uma história que pudesse mostrar que existem qualidades heróicas para lá da violência”, diz Bond. “Não queríamos que o nosso herói fosse sedento de sangue, e foi assim que surgiu o nosso Dave, filho de Quíron, que nunca se sentiu à vontade com os métodos violentos do pai, mas que aceita os seus ensinamentos porque sempre foi assim. Até que aprende que talvez haja outra maneira.”

Carlos Agualusa não podia concordar mais: “O Dave tem uma relação complicada com o pai e este espectáculo fala sobre sermos corajosos o suficiente para vivermos segundo nós mesmos, mas também sobre a importância do amor e de sermos gentis, com os outros e com a natureza.”

Dragões e Monstros Míticos
© Sara Choupina/Time Out LisboaDragões e Monstros Míticos

Em palco, a arte é impressionante, desde a aparência física das marionetes até à maestria das marionetistas, neste caso Emily Cooper e Amber-Rose Perry, que as animam. George, uma serpe cuja atitude lembra um cachorrinho, vai conquistar os miúdos num piscar de olhos. “Quando estamos a manipulá-los, temos de colocar toda a nossa emoção no personagem e, ao mesmo tempo, temos de estar sincronizados, incluindo com os actores”, conta-nos Emily. “Algumas são mesmo muito pesadas e há uma cena de luta com o dragão Juno que envolve uma coreografia particularmente desafiante.” Mas não há nada como ouvir e ver o público a reagir. E, claro, como Amber-Rose diz entre risos, é fixe ganharem músculos a trabalhar. “Ficamos mesmo muito fortes”, assegura, com um grande sorriso, antes de passar a palavra a Carlos Agualusa.

Dragões e Monstros Míticos
© Sara Choupina/ Time Out LisboaDragões e Monstros Míticos

“A ideia é eu treinar a plateia, portanto as crianças que estiverem presentes são os nossos heróis e eu chamo algumas para me ajudarem a domar as diferentes criaturas”, partilha Carlos, que faz questão de nos falar do Vasco, um menino de quatro anos que subiu ao palco do Coliseu do Porto no passado 12 de Maio. “A mãe estava apreensiva, mas ele disse ‘eu vou’ e ajudou-me a completar o desafio da Fada dos Dentes”, relembra. “Preparei umas piadas de propósito para os espectáculos em Lisboa, e estou muito entusiasmado. É muito gratificante ensinar às crianças que temos de respeitar todos os seres e chegar ao fim e perceber que eles estão todos do lado do Dave e não do pai.”

Ana Marques, booking manager da UAU, que foi responsável pelo casting de Carlos, diria que o charme do actor talvez contribua para isso – a par das impressionantes criaturas, claro. “Este espectáculo ganhou o prémio de Melhor Espectáculo para Crianças no Festival Fringe de Edimburgo, portanto tem esse selo de garantia.”

Tivoli BBVA. 18-19 Mai, Sáb 11.00, 15.00 e 18.00, Dom 11.00 e 15.00. 15€-20€

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