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Alek Rein
© Vera MarmeloAlek Rein

Alek Rein: “Não tenho o ímpeto de estar constantemente a produzir”

‘Golden Montana’, o segundo álbum do cantor e compositor, saiu finalmente em Abril. Fomos perceber por que levou tanto tempo a fazer o sucessor de ‘Mirror Lane’.

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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O tempo de Alek Rein não é aquele em que vivemos e que nos é imposto. “Há um desfasamento. É um universo paralelo, o dele. Lá ainda estão nos anos 70”, explica Alexandre Oriano Dias Rendeiro, o cantor e compositor de Lisboa que se prepara para apresentar o terceiro disco de Alek Rein, esta sexta-feira, 10 de Maio, na Zé dos Bois. Golden Montana foi editado em Abril, quase oito anos após o álbum de estreia, o anterior Mirror Lane, e 13 anos e meio depois do primeiro EP, Gemini, de 2010. 

Pode parecer muito tempo, mas só para nós. Para Alek Rein, não passaram assim tantos anos. “Suponho que o tempo aqui passe de uma maneira diferente”, admite o autor, que assume nunca ter pensado a sério sobre este assunto. “Não tenho isso muito bem resolvido.” Para Alexandre Rendeiro, a pausa entre os discos também é pouco relevante. “Não tenho o ímpeto de estar constantemente a produzir, vou fazendo as cenas ao meu ritmo. E gosto de ir contra o espírito dos tempos, que nos força a estar sempre a produzir. Depois sai tanta coisa que as pessoas nem ligam”, considera. 

Se os parágrafos anteriores são confusos, é porque Alek Rein e Alexandre Rendeiro se confundem. Alek Rein é Alexandre Rendeiro, mas não completamente. É um heterónimo, uma criação à qual dá o corpo e a voz. Nem sempre foi assim, contudo. “No primeiro EP, não estava muito preocupado com esse tal universo do Alek Rein. O heterónimo ainda estava a aparecer”, detalha. “[As canções] eram metáforas para o meu quotidiano. Por isso, já havia uma distância entre mim e o que estava escrito. Porém, só depois desse EP sair é que pensei que isto se calhar era mesmo uma coisa à parte”, diz. “Que era diferente de mim. Um projecto com outro universo.”

“Então passei uns meses fechado em casa a escrever a história do Alek Rein, num [documento do] Word que tenho guardado num disco externo, já bem longo. Construí esta história de uma família alemã que emigra para os Estados Unidos e vai para Montana. O irmão que desaparece, o portal para o nosso mundo. O Mirror Lane tenta sintetizar tudo o que fui escrevendo, principalmente quando estava em Belas Artes. E agora dei mais um passo. Porque o Mirror Lane era mais exploratório, e este soa mais àquilo que tinha pensado. É mais representativo do Alek e da estética dele, a viver em Montana, numa quinta.”

O primeiro longa-duração era mais experimental, em parte, pelas pessoas que o ajudaram a ganhar forma: o baterista Marco Franco, nome destacado do jazz e da música improvisada portuguesa; e Guilherme Canhão, guitarrista, baixista e principal responsável pelo psicadelismo bravo e livre de bandas como os Lobster ou os Sunflare. Mas também a produtora Filipe Sambado, nota o cantor. “Foi muito fruto da curiosidade e do espírito aventureiro dela.” Narrativa e conceptualmente, o cantor/compositor gostava também da ideia “de haver umas certas interferências do que vem daquele mundo para cá, uns ruídos que transformam a música do [Alek Rein] em algo novo.”

Alek Rein
© Vera MarmeloAlek Rein

Não se escutam estas interferências em Golden Montana, disco de folk-rock luminosa e pastoral, urbida com o vagar e o cuidado de quem sabe e acredita no que está a fazer. As suas canções, herdeiras dos Byrds, parecem preservadas em âmbar desde a década de 70 até agora. Pertencem a outro tempo e, pela primeira vez, parecem completamente em paz com essa dessincronia temporal. Alexandre Rendeiro também parece apaziguado com o pendor revivalista e escapista desta música – em oposição, por exemplo, à de Oriano, nome com que assina as suas canções folk portuguesas, feitas com o peito cheio e sintetizando “uma data de paixões e de necessidades e de urgências”.

E quase tudo a pandemia levou

Hoje, como a maior parte dos músicos independentes, além de se desdobrar por vários projectos, Alexandre Rendeiro tem um trabalho em part-time para pagar as contas. Mas durante uns tempos foi livre. Seis meses antes da pandemia arruinar tudo e todos, tinha conseguido, pela primeira vez, viver exclusivamente da música. “Estava a tocar com Filipe Sambado, Sun Blossoms, Alek Rein e, revezando os concertos, dava para pagar as contas. Estava feliz da vida”, recorda. “A guitarra era a minha ferramenta, este era o meu trabalho, e sentia-me satisfeito. Até porque cada projecto permitia expressar-me de uma maneira diferente e ter uma interacção com o público diferente”.

“Depois veio a covid-19 e passei muito tempo sozinho em casa. Deprimido e a duvidar se tudo isto tinha valido a pena, este crescendo para um grande nada. Para um final patético. Naquela altura não sabíamos se íamos voltar ao normal”, suspira. Estava sem rumo, até que as pessoas da editora portuguesa Lay Down Recordings foram ter com ele. “E senti um calorzinho. Não estava esquecido. Isso soprou uma nova vitalidade no Golden Montana. E em mim”, reconhece. Sem o apoio dos seus pares, talvez este segundo álbum tivesse demorado ainda mais anos a sair. “Quase de certeza”.

Foi também durante a pandemia que juntou o grupo que agora o acompanha ao vivo e vai estar com ele esta sexta-feira, 10, na ZDB. Alexandre canta e toca guitarra, com o cabecilha dos Sun Blossoms e um dos seus companheiros nos Hisou, Alex Fernandes, “o membro mais antigo de Alek Rein”, no baixo; Humberto Dias (também dos Hércules e de Atalaia Airlines) na bateria; e Martim Seabra “na outra guitarra e nas segundas vozes, a tentar reproduzir as harmonias que temos no álbum”. 

Este último foi o único elemento da actual formação que não tocou no disco, no entanto seria impossível reproduzir as canções, tal como foram gravadas, sem ele a fazer as dobras de Alek Rein. O que não quer dizer que seja esse o plano. “Ainda não decidi bem se quero reproduzir integralmente aquela dinâmica acústica e eléctrica que está no disco, ou se faço uma cena mais eléctrica”, interroga-se o cantor e compositor. “Para o concerto ser um bocadinho mais vivaço.”

Zé dos Bois. 10 Mai (Sex). 22.00. 10€

Continuamos à conversa

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